sábado, 8 de junho de 2013

Movimentos sociais e esquerda europeia encontram-se em Atenas 08/06/2013

EsquerdaNet

Começou nesta sexta-feira a cimeira alternativa europeia - Alter Summit - que reune em Atenas militantes de movimentos sociais e políticos de toda a Europa. Reportagem de Jorge Costa.
O plenário ao final da tarde de sexta. Foto de Jorge Costa
O encontro realiza-se num local que é um símbolo do desperdício e da má gestão do PASOK e da Nova Democracia e da sua promiscuidade com o sector da construção, o centro da económia grega das últimas décadas. O complexo olímpico de Atenas, engalanado por Calatrava, é um colosso de betão plantado numa área gigantesca, hoje totalmente deserta e raramente visitada por algum evento, um buraco negro financeiro e urbanístico mesmo junto à capital. Para olhos portugueses, é um exemplo caricatural da mesma tentação faraónica que os governos da alternância foram realizando, com muito fundo europeu e compadrio. Espalhada em torno de um dos pavilhões do complexo olímpico, com os seus stands e exposições, o seu refeitório ao ar livre, a cimeira alternativa acentua o contraste entre a escala humana e a desproporção daquelas infraestruturas falhadas.

Na véspera do Alter Summit, a imprensa internacional voltou a soar as sirenes por mais uma contradição no campo da troika: desta vez, o FMI reconheceu que, já no início da aplicação do memorando na Grécia, a dívida do país não era pagável. Sendo o objetivo de partida inatingível, estes três anos de destruição económica surgem afinal como um violento processo de transformação da sociedade, destruição de vínculos e assalto à população. É revelador que, perante as declarações do FMI, terá havido maior perplexidade nas reações internacionais do que na Grécia. Aqui, as permanentes contradições da troika são o prato do dia e a sociedade está dividida: o que agora diz o FMI, é afirmado pela esquerda desde há mais de três anos. Mas, tal como em Portugal, já se sabe aqui que não é por a troika assumir um "erro" que ele é corrigido. Aliás, a maioria pró-memorando - a direita da Nova Democracia, os socialistas do PASOK e o centro-esquerda da Esquerda Democrática - apressa-se a fazer coro com a Comissão Europeia: "o memorando é para cumprir". Ou, como diz Seguro, "pagar a dívida é uma questão de honra"...
As lutas na cimeira alternativa
Num dossier recente, o Esquerda.net fez uma síntese do estado atual do "resgate grego", um país em rutura, onde a sociedade se multiplica em resistências, onde a esquerda anti-memorando disputa a maioria e onde o crescimento dos nazis demonstra a outra alternativa possível: a devastação moral e humana e a brutalidade. Na AlterCimeira, os focos de resistência mais ativos estiveram presentes com stands e intervenções. Um exemplo é a comunidade nortenha de Halkidiki, submetida à terapia de choque de uma multinacional da mineração de ouro que pretende transformar a região nos arrabaldes de uma gigantesca cratera, e onde o Estado não olha a meios para suprimir a resistência popular. Outro caso é o da fábrica de materiais de construção VioMe, encerrada pelos donos e depois ocupada e auto-gerida pelos operários, que inspira um amplo movimento de solidariedade no país. Ou ainda a denúncia da requisição civil de 90 mil professores com greve anunciada no mês passado, um exemplo da militarização da austeridade. A retórica dos vândalos é continental: "os grevistas querem destruir os sonhos dos estudantes", dizia há um mês o Nuno Crato grego.
A representação do Bloco de Esquerda esteve presente em todos os debates do dia, da assembleia feminista da manhã aos debate sobre defesa da escola pública, da conferência sobre as respostas à austeridade, onde falou Mariana Mortágua, economista da Mesa Nacional do Bloco, ao plenário do final do dia, encerrado pelo presidente do Syriza, Alexis Tsipras. No plenário, falaram dezenas de ativistas de toda a Europa. Em palco, alguns portugueses cantaram Grândola Vila Morena, já depois de Myriam Zaluar (Precários Inflexíveis) ter feito um relato preciso da situação nacional, das mobilizações populares e da importância da coordenação internacional na resistência à austeridade. De Portugal, viajaram cerca de vinte representantes de diversos movimentos. Está em Atenas o presidente do Sindicato de Professores da Grande Lisboa, António Avelãs, assim como ativistas da ATTAC Portugal, Plataforma Guetto, entre outras.
Uma das assembleias ao ar livre, durante a tarde de sexta
Ao longo do dia de sábado, decorrem várias assembleias simultâneas. Durante a manhã, haverá debates sobre dívida, extrema-direita, militarização, defesa do Estado social, ambiente. À tarde, sobre o poder dos bancos, ação solidária contra a austeridade, defesa dos bens comuns e a luta contra a precariedade. Quando forem 19h na Grécia, menos duas em Portugal, os participantes manifestam-se no centro da capital. À chegada à Praça Syntagma, em frente ao parlamento, dizem os organizadores que encontraremos um protesto de trabalhadores e a Marcha LGBT de Atenas. Deste dia, voltaremos a dar contas, amanhã, aos leitores do Esquerda.net.
Conferência sobre as alternativas à austeridade, com a participação de Mariana Mortágua
Uma das assembleias ao ar livre, durante a tarde de sexta: apresentação das experiência locais da rede Solidarity4all, que enfrenta as consequências da austeridade nas comunidades

Nenhum comentário:

Postar um comentário