segunda-feira, 14 de maio de 2012

EUA, Otan e seus aliados na região querem destruir a Síria 14/05/2012


As duas explosões que ocorreram na última quinta-feira (10), em Damasco às 7h30 no horário local, geraram revolta e indignação na comunidade internacional, temor e tremor na população síria e inúmeras reflexões e questionamentos na população de origem síria na imigração. Por Claude Fahd Hajjar*



É temerário pensar que estas ações poderiam ter sido executadas por cidadãos sírios opositores ao governo; assim como é inverossímil crer que os organismos de segurança do governo do presidente Bashar Al Assad teriam algum benefício com semelhante ação.
A tragédia que assistimos pela TV deve ser atribuída a pessoas, entidades ou governos interessados em prejudicar a sociedade síria, impedindo que se estabeleça o diálogo nacional proposto pelo Conselho de Segurança (CS) da ONU. Tal diálogo só poderá ser levado a cabo se for respeitado por todas as partes do conflito. Caso isso não seja possível, o CS da ONU ameaça intervir. A impressão que temos é que, justamente quando a Síria está concluindo uma eleição para o Parlamento e concomitantemente, recebendo os observadores da ONU, os ataques se intensificam como provocações que buscam a instabilidade que justificaria uma intervenção externa.
Mas quem deseja a guerra ao diálogo?
Sabe-se através das agências de notícias que a Turquia deu abrigo e treinamento ao“exército livre sírio” na fronteira com a Síria. E a agência noticiosa da Síria mostrou o grande número de sequestros de civis, assim como franco-atiradores posicionados em Homs, que tinham como único objetivo atingir oficiais, personalidades e jovens que se negavam a empunhar armas e se mantinham solidários ao governo ou dentro de uma oposição que apoia o diálogo.
As agências de notícias mostraram a apreensão de armas e munições que vinham da Líbia, e seriam recebidas através do porto do Líbano e contrabandeadas para a Síria. Ainda através das agências de notícias sírias e libanesas, temos conhecimento da presença de mercenários sauditas (salafitas) e outros, que estiveram presentes na Líbia e no Egito, estão agindo na Síria, e cooptados ativistas e opositores ao regime sírio mediante salários mensais.
Aqueles que lutam contra o diálogo nacional sírio só podem ser considerados criminosos a serviço de governos que desejam a morte de cidadãos sírios, a desestabilização de seu governo e plantar o temor no cidadão sírio.


Marcha da população em apoio a Assad e contra a intervenção estrangeira
Nada justifica esta carnificina que se instalou na Síria e que vem sendo financiada com o dinheiro dos países do CCG (Conselho de Cooperação do Golfo) e seus aliados, dispostos a depor o governo de Assad à revelia da opinião do povo sírio.
Que exista oposição ao governo, sim concordamos e consideramos salutar.
Que exista uma disputa política e um Diálogo Nacional para que os muitos erros sejam sanados, concordamos e consideramos assertivo.
Mas por que destruir prédios e a morte de civis inocentes?
Crianças e jovens a caminho do trabalho e escolas?
Gigantescas explosões em bairros residenciais e centrais?
O objetivo destes terroristas e dos governos enfermos que os apoiam é levar a instabilidade ao povo de Damasco. Ameaçar as grandes cidades. Criar o caos e a desordem e minar a estrutura da sociedade síria.
O Império não aceita ser desafiado…
Tudo começou em 2003 quando o Presidente Bashar Al Assad não aceitou ser aliado dos EUA de George W. Bush e Dick Cheney na invasão ao Iraque.

Foi decretado aí o final do governo Al Assad.
Ou o governo de Bashar Al Assad torna-se aliado do governo norte-americano e da Otan na Invasão ao Iraque, e colabora com a destruição do governo, povo e da infraestrutura do Estado iraquiano ou estaria decretado o seu fim.
Foi em 29 de setembro de 2003 que o governo norte-americano, convocou uma conferência em Washington dedicada ao futuro da Síria, da qual participaram personalidades e representantes de partidos políticos sírios que atuavam nos EUA. Foi confiada a tarefa a estes opositores de buscar alianças com os seus pares, opositores sírios na Europa e na Síria. Começa aí o financiamento da Oposição Síria. (L’Expresso, pág.78 e 79 febbraio 2004, di Dina Nascetti).
Em 2003, a Síria vivia o início de sua abertura política e econômica, que resultara no afrouxamento da vigilância de suas fronteiras, por onde as armas financiadas pelos EUA, CCG e Otan com os seus aliados no Líbano e na Turquia, tornaram real a posse de armas e a luta armada.
A “Primavera Árabe” teve início em janeiro de 2011 na Tunísia, inspira o Egito e se estende para a Líbia e atinge a Síria… Em menos de três meses se espalha pela porção do mundo árabe não alinhada aos EUA, mas – pasmem! – não consegue contagiar a Arábia Saudita, a mãe de todas as ditaduras do mundo árabe, onde, apenas para citar um exemplo, as mulheres não podem dirigir um automóvel … O fato de a primavera árabe não contagiar a Arábia Saudita é um grande indício (porém não o único) de ter sido um movimento fabricado por países do Ocidente. Mas para encobrir o que?
A Criação do Estado da Palestina
Foi no dia 1º de dezembro de 2010 que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou a necessidade da criação do Estado da Palestina com as fronteiras anteriores a 1967.
Esta declaração do Brasil, que foi o primeiro país a dar o seu apoio à criação do Estado da Palestina foi seguida por outros 140 países e que fora referendada em 23 de setembro de 2011, quando a presidente Dilma Russef fez o seu histórico pronunciamento, da primeira presidente mulher a usar a tribuna da Assembleia Geral da ONU.
A Campanha pelo Estado da Palestina Já estava sendo articulada pela diplomacia do presidente Abbas. Esta ação afirmativa da Autoridade Nacional Palestina, não interessa a Israel e não interessando a Israel, não interessa aos EUA; e não interessando aos EUA, não interessa à Otan… e logo também aos seus aliados no Golfo…
Com a “Primavera árabe” mudaram o foco do mundo
O foco saiu do Estado de Israel, país antidemocrático, de governo não-laico, segregador, preconceituoso e racista, opressor e usurpador das terras palestinas e a quem não interessa a criação do Estado Palestino.
O novo foco de atenção do mundo foi dirigido aos países árabes não alinhados com Washington, que sempre denunciaram a política de dois pesos e duas medidas que o Ocidente norte-americano e seus aliados empregam na sua relação com o Estado de Israel e o povo palestino.
Uma Primavera que nunca existiu, pois, desde o início foi estimulada e monitorada… No Egito pela infiltração da CIA junto à Fraternidade Muçulmana (que foi convidada a Washington e recebida na Casa Branca em 5 de abril de 2012; na Líbia, orquestrada por Sarkozy desde outubro de 2010; e na Síria, como vimos acima, com suas sementes remontando a 2003 e à invasão norte-americana ao Iraque.
Vamos aguardar os acontecimentos, mas queremos crer que o mundo não é mais o mesmo desde o veto da China e da Rússia em 4 de fevereiro de 2012 no Conselho de Segurança da ONU.
Fica registrada aqui a nossa indignação, com todos aqueles que acreditam que podem substituir o desenvolvimento, o fomento à criação, à produção e ao bem-estar e a felicidade dos povos ; pela guerra, e assim destruir a soberania e a dignidade das nações.
Os últimos quarenta anos da Síria puderam criar um grande bem-estar, progresso, educação, saúde e moradia para a maioria da população síria. Faltava muito… Sim, sempre falta em todos os países do planeta, mas não vai ser através dos “Senhores da Guerra” e da destruição que iremos implantar o bem-estar e a paz.
A receita dos “Senhores da Guerra”, invadir para proteger, levou o Iraque a retroceder 40 anos. A ação na Líbia resultou na morte de 140 mil cidadãos e conduziu a um retrocesso de outros quarenta anos.
Não podemos permitir que esta tragédia também seja o destino da Síria.
Sim ao Diálogo Nacional! Sim à deposição de armas! Que todas as responsabilidades sejam apuradas.
A tragédia de 10 de maio de 2012 não poderá ficar impune!
*Psicóloga, psicoterapeuta e pesquisadora de temas árabes

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