1/6/2013, Atilio Borón, Contrainjerencia
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Henrique Capriles (E) e Juan Manuel Santos em recente visita do primeiro à Colômbia |
ATUALIZAÇÃO: 1/6/2013, Telesur (em espanhol)
“Presidente Juan Manuel Santos solicitará ingreso de
Colombia a la OTAN” (informação
distribuída, por e-mail, por Jacob Blinder)
Atílio Borón |
ATÍLIO
A. BORÓN - Por mais que se discuta, qualquer acordo econômico é também um
compromisso político. O pensamento neoliberal apresenta suas opções políticas
(por exemplo, promover um modelo econômico que enriquece os ricos e espolia os
pobres) como se fossem resultado de cálculo técnico ou de alguma racionalidade
abstrata, quando, na verdade são exatamente o contrário.
Isso
vale tanto para os acordos firmados no plano doméstico quanto no plano
internacional. Por isso não surpreende a provocação que vem do governo de Juan
M. Santos – que agora diz que tudo não passou de “mal entendido” – ao receber o
candidato derrotado da direita venezuelana Henrique Capriles. Ao fazê-lo, o
presidente colombiano emprestou alguma legitimidade às escandalosas “denúncias”
de Capriles – refutadas por sucessivas auditorias que examinaram os resultados
das eleições de 14 de abril – e alinhou-se irresponsavelmente com o líder da ala
fascista e mais radical e golpista da direita venezuelana.
Nicolás Maduro |
Mas...
só com essa? Não, porque a estratégia de desgaste em que trabalha o antichavismo
não é criação original venezuelana, mas expressão da orientação que continua a
ser distribuída de Washington, para conseguir concretizar seu projeto de
desconstruir o chavismo e apagá-lo para sempre da face da terra. Por isso a Casa
Branca ainda não reconheceu a legalidade e a legitimidade do triunfo de Nicolás
Maduro nas eleições presidenciais na Venezuela. A teimosa reação do insólito
Prêmio Nobel da Paz não é teimosia pessoal, mas cumprimento meticuloso do
projeto para reverter a correlação de forças no hemisfério que, em 2005, já fez
naufragar o projeto da ALCA em Mar del Plata.
Componente
fundamental desse projeto é o ataque ininterrupto, a tentativa de deslegitimar e
de desestabilizar os governos bolivarianos e progressistas da Região. O sonho
impossível dos EUA é restabelecer na América Latina a situação que houve antes
da Revolução Cubana, quando as ordens da Casa Branca eram obedecidas sem
contestação pelos governos da Região.
Esse
é o sentido da tão divulgada e propagandeada Aliança do Pacífico, constituída de
México, Colômbia, Peru e Chile, que, empurrada por Washington, já organizou nada
menos que sete reuniões de cúpula em pouco mais de um ano.
O objetivo desse hiperativismo
diplomático [1] é, principalmente, político e, em
menor medida, econômico. É político, porque visa a refazer o mapa sociopolítico
regional, acabando com os governos dos países da ALBA e inclusive com seus
aliados, como os governos de Argentina e Brasil, “cúmplices”, segundo
Washington, no processo que derrotou a ALCA. E é objetivo econômico, porque a
Aliança do Pacífico é a mais importante peça da contraofensiva imperialista
destinada agora, de fato, a tentar conseguir uma “outra” ALCA, sob novo nome, e
a potencializar o papel dos “cavalos de Tróia” que Washington tem enviado contra
os governos “inimigos”, para boicotar, por dentro, projetos que a Casa Branca
rejeita visceralmente, como a UNASUR, a
CELAC e, um pouco menos, o MERCOSUL.
Não
surpreende que governos e políticos os mais reacionários da América do Sul – e
também os da Europa! – disputem entre si o duvidoso privilégio de ser o primeiro
a unir-se à Aliança do Pacífico, concebida e orquestrada pelos EUA para defender
seus próprios interesses, servindo-se de seus peões latino-americanos e
europeus.
Que
sentido teria que países como Espanha, Austrália e Japão, que hoje têm status de
observadores, tenham declarado que solicitarão, ainda em 2013, o direito de
converter-se em membros plenos da Aliança do Pacífico? Austrália e Japão
precisam talvez desse instrumento norte-americano, para vincular-se ao novo
centro de gravidade da economia mundial, que está, não distante, mas
precisamente em seu entorno? Ou o fazem exclusivamente porque são países
submetidos militar, econômica e diplomaticamente à vontade da Casa Branca e,
assim, fazem o que são mandados fazer?
Claro
está que é movimento engendrado nos EUA, do qual Santos é o principal
articulador (não esqueçamos e a última e fundamental reunião da “aliança”
aconteceu há poucos dias, 22-23 de maio, em Cali, Colômbia), e que exige
de seus protagonistas submissão abjeta aos éditos e prioridades dos EUA.
John Kerry |
Para a Casa Branca hoje, nada é
mais importante que aproveitar o momentâneo desconcerto provocado pela morte de
Hugo Chávez para “pôr ordem” no que o secretário de Estado John Kerry chamou de
“quintal dos fundos de Washington”–
expressão que, de tão
reveladora, deixara de ser usada há muito tempo. E Santos obedeceu e
recebeu um
político desprestigiado e já derrotado nas urnas, que é apoiado pelo que
há de
pior na direita latino-americana e europeia – principalmente pelo
corrupto
Partido Popular de España (PPE), cujo chefe clandestino é José M. Aznar –
culpado por haver instigado a prática de crimes que culminaram no
assassinato de
onze chavistas e de mais de uma centena de feridos, além da destruição
de
clínicas populares de atendimento médico e prédios públicos na
Venezuela.
O
objetivo do giro latino-americano de Capriles é desprestigiar a qualquer custo o
governo de Maduro, inclusive deteriorando ainda mais as já difíceis relações
entre Colômbia e Venezuela. É Washington fazendo ver aos seus estados-clientes
que não haverá limites éticos ou escrúpulo de tipo algum, para tentar isolar o
governo da Venezuela, caracterizá-lo como “estado bandido”, e enfraquecê-lo, no
confronto com Washington.
Para
isso se combinarão estratégias de sedução hipócrita – Joe Biden elogiando o
Brasil como potência já “emergida”, mas sem dizer que o Brasil é o país mais
cercado por bases militares dos EUA, de toda a América Latina – e outras
estratégias mais brutais, como as que Biden com certeza comunicou ao presidente
Santos na visita que lhe fez.
Dilma Roussef e John Biden em 31/5/2013 |
E
haverá também iniciativas como a da Aliança do Pacífico, que, por causa dos
objetivos que tem e da extraordinária mobilização de recursos, será arriscado
não levar em conta. Tudo indica que o povo e o governo da Venezuela estão bem
conscientes da ameaça que pesa contra eles, que saberão resistir e vencer.
A Venezuela e o povo venezuelano
sabem que contarão com a solidariedade militante da maioria dos povos e governos
de Nuestra América, os quais, com suas lutas, derrotarão outra vez a
velha ideia da velha ALCA, que agora reaparece com outro nome. No nauseabundo
contexto internacional que se configura, deve-se destacar o honrado gesto do
presidente Rafael
Correa, o qual, por seu Chanceler, informou que o Equador não
receberia Capriles.
Nota
dos tradutores:
[1] Sobre o
“hiperativismo diplomático” dos EUA, ver também:
- 17/5/2013, redecastorphoto em: Pepe Escobar: “Luta livre/vale-tudo – e é EUA vs Europa”, traduzido.
- 31/5/2013, redecastorphoto em: Jean-Luc Mélenchon: “URGENTE: Impedir o acordo secreto entre UE e EUA (TTIP)”, traduzido.
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