segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Líbia: a intervenção dita "humanitária" da Otan


Enviar pirómanos para extinguir um incêndio, queimar a floresta para salvar as árvores, bombardear a população para poupar civis, lançar campanhas de terror em nome do combate contra o terrorismo, promover a democracia apoiando ditadores, monarquias, terroristas e outros gangsters de toda espécie... a lógica dos dirigentes ocidentais é impossível de conter.

Por Viktor Dedaj, em Resistir.info

22 de Agosto de 2011 - 11h09 Durante este tempo, a organização da mídia bombardeia as consciências até obter a sua rendição. E é assim que você acorda um dia com o sentimento de que sempre foi favorável às privatizações. Com a crença de que os Talibãs sempre foram nossos inimigos. Que esta Europa é a única que vale a pena. Que você compreende muito bem que não se poderá pagar vossa aposentadoria. E que a Otan é uma espécie de serviço internacional de ambulâncias.

Hoje, 21 de agosto, a última notícia: "os rebeldes entraram em Tripoli". Depois de semanas de "os rebeldes líbios avançam", "os rebeldes controlam a cidade de...", os "rebeldes anunciam...". É cômico como o ator principal destes acontecimentos, a Otan, consegue tornar-se discreta nos noticiários.

Para ver a dificuldade que estes rebeldes tiveram para avançar num país plano, pouco povoado, onde os seus mestres tinham e têm o domínio total do céu – condições ideais para uma tal campanha – e onde (vantagem suprema) o povo seria "apoiador da sua causa", é evidente e claro que os "rebeldes líbios" jamais representaram grande coisa, chegando até a matarem-se entre si e a eliminar o seu próprio comandante em chefe (e isto nas condições "ideais").

Dito isso, a menos que haja um golpe de teatro, eles "ganharão", cedo ou tarde, isto é certo. E como poderia ser de outra maneira? Quando o bastão redondo da propaganda não entra no buraco quadrado da realidade, a Otan encarrega-se de arredondar os ângulos.

Apostamos que não faltarão nessa altura algumas sombras embrutecidas para chafurdarem nas nossas telas a gritarem "ganhamos"! E dizer que há alguns meses eles mal sabiam pronunciar o nome do país. Mas a verdade é que a história já provou que eles haviam errado, que eles erram, e a questão do "combate" não mudará isso.

Trípoli resistirá? Quanto tempo? Horas, dias? E subitamente as apostas são abertas e eis-nos projetados na lotaria local. Eles falarão sem dúvida de "partidários de Kadafi" (um certo número) e nunca "dos líbios opostos à intervenção imperialista" (provavelmente mais numerosos). Eles nos mostrarão algumas imagens de multidões em regozijo. Utilizarão eles imagem tomadas outrora em Bagdá? Encontrarão eles finalmente os 6000 líbios assassinados "pelo regime" ou mudarão de assunto, como no caso das armas de destruição maciça?

Portanto, "se irá ganhar". A questão que me intriga é saber quem é o "se" e o que é que terá sido "ganho". É louco como se esquiva sistematicamente esta questão interessante. Eu sei que este "se" não sou eu, nem tão pouco você (qualquer que seja a vossa opinião sobre esta operação da Otan). Sei também que não é a imensa maioria da população líbia que certamente tinha uma outra ideia da Primavera árabe.

Esta manhaã (21 de Agosto), a imprensa nos explica que uma brigada rebelde de elite está impaciente às portas de Trípoli. Ela nos explica sem pestanejar que alguns dos 600 homens têm a "dupla nacionalidade americana e líbia"... que o seu chefe fala "com uma forte pronúncia irlandesa", um "atirador de elite" que "passou a maior parte da sua vida em Dublin", que está "em contato permanente com as forças da Otan".

E eu me digo: "aí está, nenhum líbio para dirigir a brigada de elite da rebelião?". E também: "se não se trata de mercenários, eles parecem furiosamente". Mas a ideia não perambula no meu espírito pois o lugar já estava ocupado por esta outra ideia recentemente martelada pelos media: é Kadafi que emprega mercenários ("negros e drogados").

Sim, doravante temos a indicação de que "se" ganhou: um líbio puro, como já não há nas tribos. Ele usa Ray Ban, masca chewing-gum, fala com uma forte pronúncia irlandesa e o seu passaporte líbio é provavelmente muito belo, inteiramente novo e ainda deve cheirar a tinta fresca. E tenho o sentimento confuso que se lhe perguntasse "e Bagdá, como era?", ele responderia "no comment".

Então, após meses de bombardeios de toda espécie, tenho de me render... à evidência. E dizer que deixei de duvidar desta história de intervenção humanitária.

PS: último minuto, na categoria do "eles ousam tudo". Um porta-voz da Otan declara que a missão da Aliança é proteger a população civil e não tomar partido por um dos dois campos. Orwell, tu é um amador.

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