Não há boas razões macroeconômicas para que a redução do déficit público seja vista como a questão mais urgente e prioritária dos Estados Unidos no momento, mas nesse ponto, Obama rendeu-se à agenda republicana. Insiste, porém – e é sensato –, em que se essa redução precisa ser feita, que o seja em parte por aumento de impostos e não só corte de gastos públicos. Seguindo a sugestão de Warren Buffet, sugere um imposto extra às pessoas físicas que ganhem mais de um milhão de dólares por ano.
Leia também:
Plano não reelegerá Obama
O sangramento enfraquece o paciente
Para ampliar a distribuição da riqueza financeira
Atualmente, esses contribuintes são, em média, muito menos tributados que a classe média, pois as rendas, lucros e ganhos de capital são taxados em apenas 15%, ao passo que a alíquota sobre a renda do trabalho chega a 35%. Isso afetaria apenas os 450 mil estadunidenses mais ricos – 0,3% dos contribuintes – e proporcionaria, em 10 anos, uma arrecadação extra de 1,5 trilhão de dólares, que representariam cerca de um terço do total de 4,4 trilhões previstos no pacote. O restante viria de cortes nos programas de saúde pública Medicare e Medicaid e do (incerto) fim das guerras no Iraque e Afeganistão.
Para os apresentadores da Fox e o presidente republicano da Câmara, John Boehner, Obama está “recorrendo à luta de classes”, “penalizando a classe mais produtiva” e “minando o espírito empresarial dos Estados Unidos”. Poderia ser, quando muito, defesa de classe. A resposta de Obama foi correta: promover a histeria sobre o déficit público e contra os gastos sociais e ao mesmo tempo proteger os cortes nos impostos sobre os ricos aprovados em 2001, no início do governo Bush júnior, como insistem os republicanos, já é pura luta de classes.
O problema não é Obama reagir à guerra de classes dos republicanos: é fazer isso de mentirinha. É evidente para quem acompanha o cenário político dos EUA que essa parte da proposta não tem nenhuma chance de ser aprovada no atual Congresso – e se as eleições de 2012 o mudarem, dificilmente será para melhor. Quanto à guerra no Oriente Médio, é também claro que acabará ou não em função da situação geopolítica e não de decisões orçamentárias. Ou seja, passará apenas a parte do pacote que penaliza os usuários da saúde pública, que nos EUA são os pobres e os idosos. O melhor que se pode dizer da proposta é que dá aos democratas um discurso e uma bandeira, o que lhes dá uma chance de se saírem menos mal do que se marcharem em silêncio para o matadouro.
Antonio Luiz M. C. Costa
Antonio Luiz M.C.Costa é editor de internacional de CartaCapital e também escreve sobre ciência e ficção científica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário