sexta-feira, 11 de maio de 2012

Escassez de petróleo deve gerar mudanças globais 11/05/2012


Reservas de petróleo estão prestes a se esgotar, enquanto as fontes de energia alternativas como biocombustível, energia eólica, etc., ainda não são viáveis para uso em escala industrial. É nesse contexto que o gás natural russo, forte candidato a sucessor do petróleo, promete desafiar poderio norte-americano no setor de fontes de energia.
 
 
Escassez de petróleo deve gerar mudanças globais
Foto: AZAdam
Não é novidade alguma que as empresas americanas têm domínio sobre boa parte da indústria global de petróleo em todas as fases do ciclo técnico-econômico, desde a prospecção e extração de petróleo até sua refinação e consequente formação de mercados para os produtos acabados.
Além de suas forças armadas controlarem mais de 60% das regiões petrolíferas da Terra, as bolsas norte-americanas americanas fixam o preço do petróleo e os bancos do país formam os principais indicadores financeiros para os contratos nos mercados de valores mobiliários.
Após a Segunda Guerra Mundial, o sistema internacional foi construído de modo a proporcionar aos EUA o acesso e a possibilidade de controle sobre a maior parte das reservas globais de petróleo, considerado o “sangue da civilização”. No início do século 21, contudo, a situação mudou.
Chegou-se à compreensão de que as reservas de petróleo estão prestes a se esgotar enquanto as fontes de energia alternativas como biocombustível, energia eólica, etc., ainda não podem ser usadas em escala industrial.
Nesse contexto, o gás natural vem sendo considerada a fonte de energia mais demandada como sucessor natural do petróleo, sobretudo porque suas reservas são tão grandes que podem satisfazer as necessidades da atual civilização em combustível por pelo menos mais 250 anos, caso seja mantido o ritmo atual de consumo.
O que a Rússia tem a ver com tudo isso? Bem, diante da presente situação, os especialistas do Pentágono começaram a rever suas previsões relacionadas à conjuntura global para as próximas décadas.
 Foi então que, divulgado no final do ano passado, o estudo “O gás natural como instrumento da política de Estado da Rússia”, do Instituto de Estudos Estratégicos do Colégio Militar dos EUA, expôs uma questão preocupante para os norte-americanos: a lenta recuperação russa vem intimidando seu domínio global, embora a capacidade militar da Rússia seja ainda insignificante.
De acordo com os analistas do Pentágono, o novo papel do gás natural no cenário econômico mundial irá inevitavelmente impor a necessidade de refazer a atual ordem internacional. O “mundo do petróleo” em que os EUA eram protagonistas dará lugar ao “mundo do gás” em que sua posição é bastante secundária.

O fim de uma era
 As diferenças dramáticas entre os mercados de petróleo e de gás não permitem os EUA utilizar o potencial político e militar acumulado para garantir uma posição dominante no “mundo do gás”.
Em primeiro lugar, o gás é distribuído no mundo mais uniformemente do que o petróleo, razão pela qual serão necessários maiores esforços e dinheiro para controlar seus depósitos.
A maior parte do gás natural chega ao mercado pelos gasodutos. Seu papel nas economias dos países consumidores é muito grande. Como resultado, os países consumidores de gás estão ligados aos países produtores de forma mais forte do que os consumidores de petróleo.
Mais do que isso, nas últimas décadas, a infraestrutura e as regras do mercado de gás têm se formado sem a participação dos EUA, enquanto a Rússia mantém a liderança nesse mercado.
O desejo norte-americano de influenciar a situação fica evidente em sua ideia de criar um sistema de fornecimentos de gás natural liquefeito e desenvolvimento de tecnologia de produção de gás de xisto.
No entanto, para a liquefação do gás será necessária uma infraestrutura sofisticada e dispendiosa, enquanto a extração de gás de xisto é extremamente perigosa para o meio ambiente.
Todas essas circunstâncias proporcionam à Rússia vantagens econômicas e políticas importantes. Já o sistema existente de contratos bilaterais de gás destrói a unidade não só da Europa, mas também da Otan. A maioria dos países aliados são os consumidores do gás russo. Como eles  renunciaram à energia nuclear, sua dependência do gás russo só irá aumentar.

Contra-ataque norte-americano
 O que os Estados Unidos poderão contrapor a essa tendência? A hipótese mais provável é que eles tentem acabar com o sistema de contratos bilaterais de gás entre os países da Europa e Moscou para elaborar uma posição coordenada em relação às compras do gás russo.
 Todavia, face à crise econômica, os países europeus irão preferir se manter tão próximos da Rússia quanto possível para poderem comprar seu gás a um preço inferior ao vigente no mercado.
Além disso, os EUA continuarão provavelmente a promover no mercado europeu o gás de xisto e a desenvolver a infraestrutura da produção de gás liquefeito, o que poderá gerar novos problemas econômicos e ambientais.
Não podemos excluir também a possibilidade dos norte-americanos continuarem tentando reforçar a Otan e, assim, acelerando a construção do sistema de defesa antimíssil europeu.
 Quanto à Rússia, sua liderança política irá viver tempos difíceis e enfrentar uma pressão externa cada vez maior. Seus gasodutos, o “Corrente do Norte” e o “Corrente do Sul”, ficarão no centro das atenções de seus concorrentes e podem se tornar alvo de atentados terroristas, por exemplo.
 O aumento das ameaças externas obrigará o governo russo a rever algumas disposições de sua estratégia de segurança nacional. Em outras palavras, a  ‘Idade do Gás’ vai exigir da Rússia uma grande capacidade de resistência e ponderação tanto  na tomada de decisões como na escolha de aliados.
 Serguêi Griniáev é Diretor Geral do Centro de Avaliações Estratégicas e previsões.
Gazeta Russa

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