De O Globo
Punições incluem suspensão de investimentos e serão apresentadas para decisão conjunta
BRASÍLIA e SÃO PAULO — A presidente Dilma Rousseff vai levar para o 
encontro do Mercosul um cardápio de possíveis sanções contra o Paraguai,
 a vigorar até as eleições presidenciais naquele país, previstas para 
abril de 2013. Entre as medidas, além da exclusão do país do Mercosul e 
da própria União das Nações Sul-americanas (Unasul), está a suspensão de
 projetos de investimentos — sejam novos ou em fase de implementação — 
e, em última instância, da Tarifa Externa Comum (TEC), tabela com 
alíquotas de importação usada no comércio com países que não fazem parte
 do bloco.
Dilma encomendou a lista para que ela possa ser apresentada aos 
demais presidentes do grupo para que decidam, juntos, qual punição impôr
 ao Paraguai.
A presidente determinou aos técnicos do governo que, na elaboração de
 possíveis sanções, sejam evitadas medidas que afetem diretamente o 
cidadão paraguaio, como o embargo às importações de produtos básicos 
daquele país e a adoção de ajustes na compra da energia produzida pela 
hidrelétrica binacional de Itaipu. Mas Dilma quer tratar o assunto com 
todo o rigor possível, disse um interlocutor, para evitar que o 
impeachment de Fernando Lugo se banalize e se transforme em um 
precedente perigoso na região.
— Há consenso na Unasul de que houve um atentado à democracia. Não dá
 para fazer vista grossa ao que aconteceu — disse um importante 
diplomata.
As sanções e outras propostas serão fechadas até o fim da semana, 
quando Dilma levará a posição do governo à reunião do Mercosul em 
Mendoza, na Argentina. Na sexta-feira, haverá um encontro de líderes da 
Unasul, durante a reunião de chefes de Estado do Mercosul.
Itaipu representa 20% da carga de energia do Brasil
De acordo com o ministro da Secretaria Geral da Presidência da 
República, Gilberto Carvalho, o governo brasileiro não tomará medidas 
isoladas em relação ao Paraguai, mas agirá em conjunto com os demais 
países do Mercosul e da Unasul. De manhã, a presidente se reuniu com o 
chanceler Antonio Patriota, com o ministro da Defesa, Celso Amorim, e o 
assessor especial para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia.
— Estamos evitando tomar qualquer medida que não seja construída num 
consenso com os outros países, dada a delicadeza (da situação) — disse 
Carvalho, que evitou usar a palavra golpe, mas admitiu que a decisão do 
Congresso vai na contramão da democracia na região. — O fato de mudar o 
presidente de um país em 24 a 30 horas é de todo inusitado. Portanto, há
 uma insurgência de todos os países contra isso.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou que Lugo não teve 
tempo suficiente para a defesa, em ato de apoio do PC do B à candidatura
 de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo.
— Acho que a Unasul vai se reunir para tomar uma decisão. Mas, 
enquanto cidadão brasileiro, acho que a democracia do Paraguai foi 
ferida.
Ao mesmo tempo, a diplomacia brasileira busca apoio da comunidade 
internacional para o veredicto da Unasul, que considerou que houve 
rompimento dos princípios democráticos no Paraguai, com o 
impeachment-relâmpago de Lugo. Segundo fontes do Palácio do Planalto e 
do Itamaraty, já estão sendo computadas vitórias diplomáticas, como a 
manifestação do Departamento de Estado americano divulgada ontem, que 
expressa preocupação dos EUA com o rito sumário promovido pelo Congresso
 paraguaio. O comunicado é resultado de uma conversa telefônica entre 
Patriota e a secretária de Estado Hillary Clinton, no domingo. Hoje, a 
OEA (Organização dos Estados Americanos) discute o caso do Paraguai.
Na Europa, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da Alemanha, Andreas Peschke, comentou o caso:
— Está claro que não somente o governo alemão, mas toda a União 
Europeia está atualmente preocupada com os acontecimentos políticos no 
Paraguai.
Dilma recebeu nos últimos dias um mapa das relações comerciais entre 
Brasil e Paraguai. De janeiro a maio, o Brasil exportou US$ 1 bilhão 
para o país vizinho e importou US$ 360 milhões. Pela pauta de comércio, o
 governo percebeu que os produtos comprados pelo Paraguai são mais 
facilmente substituídos do que os vendidos, o que significaria ao país 
vizinho mais prejuízos com uma eventual ruptura do fluxo de comércio. Do
 Paraguai, chegam principalmente produtos primários, como milho, trigo, 
arroz e carne. Já as exportações do Brasil são mais relevantes para o 
funcionamento econômico do Paraguai, como adubos e fertilizantes, 
fundamentais para o sistema agropecuário do quarto maior exportador de 
soja.
O Brasil importa esses insumos principalmente pelo Porto de Paranaguá
 (PR) e repassa-os ao Paraguai. O segundo item mais exportado é óleo 
diesel, pela Petrobras. A corrente de comércio entre os países quase 
dobrou em dois anos, chegando a quase US$ 3 bilhões em 2011.
No acordo do Itaipu, o entendimento brasileiro é que o poder de 
barganha nacional é enorme. Primeiro, porque a hidrelétrica binacional 
representa apenas 20% da carga total de energia do Brasil — fatia 
fundamental, mas longe da dependência de quase 100% de Itaipu do 
Paraguai. Segundo, porque no ano passado, depois de assumir um grande 
desgaste político interno, o governo brasileiro conseguiu ratificar no 
Congresso um acordo que elevou em três vezes o valor referente ao uso 
pela energia que exceder 50% à produção da usina.
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