Surgiu
 uma novidade no mapa político e econômico da América Latina: México, 
Colômbia, Peru e Chile uniram-se com o objetivo de dar plena liberdade 
às suas empresas e aos seus 215 milhões de habitantes para transitar, 
estudar, trabalhar, movimentar capitais e fazer negócios sem precisar de
 licença prévia dos governos locais. É o que prevê a Aliança do 
Pacífico, o novo bloco regional cuja criação foi anunciada na semana 
passada pelos presidentes Felipe Calderón (México), Juan Manuel dos 
Santos (Colômbia), Ollanta Humala (Peru) e Sebastián Piñera (Chile). 
Está prevista a adesão do Panamá e da Costa Rica no segundo semestre.
Foi um movimento surpreendente, rápido e 
eficaz. Em dezembro de 2010, o então presidente peruano Alan García 
lançou a ideia, recebida com entusiasmo por México, Colômbia e Chile. Um
 ano depois, eles se reuniram e fixaram o prazo de seis meses para um 
entendimento definitivo. Em março, chegaram a um consenso em inédita 
reunião de cúpula, por teleconferência. Na quarta-feira (6), em 
Antofagasta, no deserto do Atacama, assinaram o acordo básico.
Trata-se de um compromisso ambicioso, no 
qual se pretende a livre circulação de pessoas, mão de obra, capitais, 
bens, serviços e mercadorias, integração de redes de ensino 
(especialmente universidades), instituições financeiras (Bolsas de 
Valores) e criação de instâncias institucionais comuns, supranacionais.
As regras desse novo bloco são simples: 
para entrar é preciso ter tratado de livre comércio com todos os sócios,
 ser uma democracia, possuir estabilidade jurídica e constitucional. Ao 
Panamá e à Costa Rica, provisoriamente “sócios-observadores”, faltam 
acordos comerciais. Definiu-se que em dezembro entra em vigor o regime 
de livre circulação de mercadorias, ou seja, eliminam-se barreiras 
aduaneiras e regras de origem sobre o que é produzido pelos sócios.
Não é pouca coisa: México, Colômbia, Peru
 e Chile compõem um mercado de 215 milhões de consumidores, somam 35% do
 PIB da América Latina e são responsáveis por 55% das exportações desse 
pedaço do planeta.
Há aspectos geopolíticos relevantes. 
México, Colômbia, Panamá e Costa Rica são países bi-oceânicos, com 
saídas para o Pacífico e o Atlântico. Além disso, os integrantes da 
Aliança têm economias abertas, baseadas em acordos bilaterais de 
comércio com China, EUA, União Europeia, Japão, Coreia, Taiwan, 
Cingapura e os principais centros econômicos do Oriente Médio.
Na prática, significa que está nascendo 
um bloco político e econômico capaz de rivalizar com o Mercosul (Brasil,
 Argentina, Paraguai e Uruguai), fissurado pelas disputas entre sócios 
em torno de barreiras crescentes sobre um comércio regional de US$ 100 
bilhões anuais.
Aliança define distanciamento do Chile, Peru e Colômbia do Mercosul
A Aliança marca um definitivo 
distanciamento do Chile, Peru e Colômbia do Mercosul, anulando todas as 
gestões prévias para suas participações no bloco do Atlântico Sul. Impõe
 o contraste de uma alternativa mais eficaz ao Mercosul, numa etapa em 
que Uruguai e Paraguai debatem a conveniência de continuar atados a um 
projeto de integração com escasso repertório de benefícios para suas 
economias. E deixa ainda mais isolados a Venezuela, o Equador e a 
Bolívia, onde floresce a desagregação política, social e econômica.
O tempo vai mostrar se os governos de 
México, Colômbia, Peru e Chile, com Panamá e Costa Rica, serão realmente
 capazes de converter a Aliança em “uma plataforma de articulação 
política, integração econômica e comercial e de projeção para o mundo, 
com ênfase na região Ásia-Pacífico”, como prevê a ata de constituição do
 novo bloco.
É certo, porém, que a iniciativa tem o 
frescor da inovação em um continente onde, depois de três décadas, o 
Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai continuam patinando na 
retórica palanqueira sobre a integração como meio de ampliar os direitos
 sociais, políticos e econômicos de mais de 200 milhões de pessoas.
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