Publicado
em 07/08/2012 por Mário Augusto
Jakobskind*
Há
uns 13 anos, os Estados Unidos e demais países da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN), entre os quais a Itália, bombardeavam a então Província
sérvia de Kosovo. A justificativa era a defesa dos direitos humanos e deter as
supostas violações que estavam sendo cometidas pelos “malditos” sérvios
comandados por Slobodan Milosevic.
O
tempo passou e como sempre acontece depois que um dos lados supera o outro,
Kosovo praticamente saiu do noticiário, sobretudo quando se desmembrou da Sérvia
tornando-se um país independente.
Agora,
Kosovo volta ao noticiário, não totalmente porque a maioria dos meios de
comunicação prefere ignorar o tema divulgado na Itália por um sargento que está
desenganado, com poucos meses de vida.
Salvo
Cannizo, do Regimento San Marco, da Marinha de Guerra italiana, está com câncer
no cérebro e responsabiliza os Estados Unidos e a Itália por envenenamento
provocado pela utilização de urânio empobrecido durante os
bombardeios.
Cannizo
e outros dois mil militares italianos que estiveram em Kosovo estão doentes,
segundo informa o jornal italiano Il
Fatto Quotidiano, uma das poucas publicações independentes naquele
país e que não depende da publicidade oficial do governo.
A
denúncia fez aumentar a polêmica em torno da revisão dos gastos do Estado
italiano pretendida pelo governo Mario Monti. O governo queria reduzir quase
pela metade os gastos destinados ao Fundo para as Vítimas do Urânio Empobrecido.
Pressionado pela opinião pública mobilizada por um grupo de ecologistas, o
governo acabou voltando atrás.
Salvo
Cannizo, de 36 anos, assegura que ficou doente em Djakoviza, durante a guerra de
Kosovo, quando a Itália mandou soldados sob a alegação de que cumpririam uma
missão de paz, por decisão das Nações Unidas.
A
vítima decidiu tornar público tudo o que está passando juntamente com outros
dois mil italianos, agora praticamente abandonados pelo Estado, governado por um
gerente do capital financeiro internacional, como é Mario
Monti.
O
Estado não reconhece o mal de que estão padecendo os dois mil italianos que
serviam no Kosovo por volta de 1999.
O
militar fez graves revelações, inclusive de que os Estados Unidos jogavam bombas
com urânio empobrecido, cujo prazo de validade havia se esgotado, e tal
procedimento ocorria porque precisavam de qualquer jeito se desfazer do material
que ficaria no solo sem detonação, porque eram jogados sem o detonador. Foi a a
forma encontrada para renovar o estoque com rapidez, não importando os
malefícios que provocariam para quem passasse por perto ficando sujeito aos
efeitos da radiação.
As
bombas tinham prazo de validade e depois era necessário eliminá-las. Só que o
custo era muito alto, sendo mais econômico utilizá-las da forma como foi feito
no Kosovo. Cannizo garante que as autoridades italianas sabiam dos malefícios
que ajudavam a renovar a indústria armamentista.
Dos
nove integrantes do batalhão de Cannizo, cinco contraíram câncer, inclusive um
seu irmão, que já morreu. A previsão dos médicos é que Cannizo não sobreviva
mais de três meses. Ele prometeu não silenciar até morrer.
Especialistas
dizem que as bombas de urânio empobrecido podem ser definidas como “pequenas
bombas nucleares”. Depois de Kosovo, essas bombas mortíferas foram utilizadas na
primeira guerra dos Estados Unidos contra o Iraque, em 1991, depois novamente no
Iraque, no Afeganistão e mais recentemente na Líbia. Só em Kosovo foram usadas
entre 10 e 15 toneladas de urânio empobrecido.
Pode-se
imaginar quantos seres humanos contraíram câncer devido o uso dessas bombas, sob
total silêncio dos sucessivos governos estadunidenses que historicamente fazem o
jogo da mortífera indústria armamentista.
Assim
caminha essa indústria, que nestes meses está conseguindo escoar a sua produção
com o abastecimento que a CIA e outros organismos estadunidenses, junto com a
Arábia Saudita, o Qatar e um pouco da Líbia, estão proporcionando aos grupos que
tentam derrubar o presidente Bashar al Assad, da Síria, até mesmo com a colaboração de
integrantes da al Qaeda. Bassma Kodmani, responsável pelas relações exteriores
do Conselho Nacional Sírio (CNS) confirmou a participação dos países árabes
mencionados.
Aliás,
uma dúvida paira no ar e já pairava o ano passado na Líbia com os acontecimentos
que levaram ao assassinato por linchamento de Muammar Khadafi, ou seja, a
participação de serviços secretos ocidentais, como a CIA, em ações conjuntas com
a al Qaeda, grupo que já teve como líder nada mais nada menos do que Osama Bin
Laden.
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Por
aqui, o jornal O Globo, agora de cara nova, conseguiu se superar em termos de
(des) informação. Furiosos com o fato de a Venezuela ter ingressado no MERCOSUL
e desesperados com as pesquisas indicando nova vitória de Hugo Chávez na eleição
presidencial de 7 de outubro próximo, em uma só edição o presidente venezuelano
apareceu como “ditador”, chefe de um “governo vinculado ao narcotráfico” e de
sobra “canceroso”, ou seja, que não conseguiu superar a doença embora tenha
informado oficialmente que a venceu.
Com
dosagem editorial tão anti, os editores de O Globo acabam fazendo com que o tiro
deles saia pela culatra. Isto é, a dose (des) informativa é tão forte e
manipuladora que até os leitores mais assíduos começam a ficar com a pulga atrás
da orelha em termos de desconfiança do jornal.
Os
críticos mais contundentes chegam a afirmar que a editoria internacional é
pautada pelos interesses de Washington.
Seja
o motivo que for, a verdade é que o mais prejudicado mesmo com tais aberrações é
o próprio jornalismo. E os leitores, que muitas vezes compram o jornal para se
informar, mas acabam tendo acesso a produto manipulado e na base do pensamento
único.
Mário Augusto
Jakobskind* é correspondente no Brasil
do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de
São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho
Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América
que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes -
Fantástico/IBOPE
Enviado por Direto
da Redação
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