Beneficiárias não se recadastraram no órgão, que identificou pagamentos indevidos a mulheres que vivem união estável, após reportagens do iG. Mais 3.461 pensionistas devem perder vencimentos. Economia anual chegará a R$ 100 milhões

Márcia celebra casamento, em 1990. À Justiça, ela nega ter sido casada para manter pensão de R$ 43 mil
Leia mais: Desembargador devolve pensões de R$ 43 mil a filha “solteira” de magistrado
O cancelamento é fruto de um recadastramento do instituto com 30.239 pensionistas na categoria filhas maiores e solteiras, com o objetivo de coibir fraudes e pagamentos indevidos. O trabalho foi iniciado em junho de 2012, após as matérias do iG .

Para o presidente do órgão, Gustavo Barbosa, brasileiro tem ideia de que pensão é herança
Como elas, outras 3.461 mulheres reconheceram viver em união estável, e devem perder os vencimentos nos próximos meses.
No Estado do Rio, as “filhas solteiras” representam cerca de um terço do total de 93.395 pensionistas, ao custo de R$ 34,4 milhões mensais, ou R$ 447 milhões por ano – e R$ 2,235 bilhões em cinco anos. O RioPrevidência também é responsável por 142 mil aposentados.
“Filhas solteiras" com até cinco filhos com um companheiro
O iG revelou o caso da dentista Márcia Couto, filha de desembargador morto em 1982, que recebia R$ 43 mil mensais , em duas pensões, apesar de ter sido casada no religioso e de ter dois filhos com o mesmo companheiro. Dois dias após a reportagem, a Justiça cancelou o pagamento, em sentença de 1º grau . Em janeiro, porém, o desembargador Pedro Saraiva, da 10ª Câmara Cível, devolveu a pensão a Márcia .

Márcia Couto, no casamento, em 1990. Para o Estado, há muitos casos como este
Segundo a lei 285/79, o matrimônio “é causa extintiva do recebimento de pensão por filha solteira”. O expediente é visto como uma “fraude à lei” pela Procuradoria do Estado. Originário do tempo em que mulheres não estavam no mercado de trabalho, o benefício almeja a subsistência e a proteção financeira da filha de funcionário morto até que comece a trabalhar ou se case.
De acordo com o RioPrevidência, 7.500 (25%) das 30.239 pensionistas “filhas solteiras” têm mais de um filho com o mesmo companheiro, forte indício de que vivem ou viveram em união estável. Em ofício ao Ministério Público – que apura o caso – , o presidente do instituto, Gustavo de Oliveira Barbosa, afirmou que “muitas das pensionistas que negaram a existência de união estável possuem mais de um filho com a mesma pessoa (chegando a casos de 5 ou mais filhos com a mesma pessoa)”.
Ao iG , o Gustavo Barbosa afirmou que “o brasileiro tem a visão de que pensão é herança” . “Qualquer pensão indevida gera desembolso do RioPrevidência e tira dinheiro para o pagamento de outros beneficiários”, disse.
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Até maio de 2012, o RioPrevidência já tinha cortado 1.100 pensões de filhas solteiras que haviam se recusado a assinar o termo, com economia de R$ 93 milhões anuais, segundo o órgão. Essa situação representava 55% das 2 mil pensões cortadas, em 2011 e 2012, conforme a assessoria.
Outras ações de auditoria de benefícios
realizadas pelo RioPrevidência, sem contar com a suspensão das filhas
maiores, geraram economia anual de R$ 112 milhões para o fundo, de
acordo com a assessoria do RioPrevidência.
Termo de compromisso alerta que prestar informação falsa é crime

Documento alerta que é crime prestar informações falsas
O termo de compromisso do RioPrevidência
alerta que “a prestação de informações falsas configura ‘crime’ de
‘falsidade ideológica’ no Código Penal” e transcreve o artigo 299,
sublinhando a pena de “reclusão de um a cinco anos, e multa, se o
documento é público”. O documento informa ainda que o RioPrevidência
poderá “buscar conferir a verdade das declarações prestadas, inclusive
com a remessa de dados ao Ministério Público para apurar a prática de
eventuais crimes contra a autarquia”.
O RioPrevidência dá duas opções à pensionista:( ) Não vivo nem vivi, desde a habilitação como pensionista, em relação de matrimônio ou de união estável com cônjuge ou companheiro (a); ou
( ) Vivo ou vivi, desde a habilitação como pensionista, em relação de matrimônio ou de união estável com (nome) ______________ que durou de ______ até ________.
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