terça-feira, 30 de abril de 2013

Venezuela: ex-general opositor tem prisão preventiva decretada por onda de violência 30/04/2013

Opera Mundi

Antonio Rivero é acusado de instigação ao crime e associação para delinquir. Nove pessoas morreram um dia após eleição

O general reformado Antonio Rivero, dirigente do partido opositor Vontade Popular, teve a prisão preventiva decretada nesta segunda-feira (29/04), por um tribunal de controle da área metropolitana de Caracas. Ele é acusado de instigação ao crime e associação para delinquir durante a onda de violência pós-eleitoral na Venezuela. Por meio de uma carta lida à imprensa por seu irmão, Rivero se declarou em greve de fome por sua prisão.

Detido no sábado pelo Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional), por ordem do Ministério Público do país, Rivero apareceu em um vídeo - exibido pelo ministro venezuelano do Interior, Miguel Rodríguez Torres, durante uma coletiva de imprensa - dando instruções para manifestantes, durante um panelaço convocado por Henrique Capriles contra a proclamação de Nicolás Maduro como presidente do país, no dia 15 de abril.












 



“Podem se livrar das pedras, podem se livrar das garrafas, podem se livrar de paus, etc, etc. [Façam] uma espécie de escudo, como no uso antigo. Mas mantenham-se coesos, integrados, unidos, não procurem se dispersar, integrados, ok? Unidos, força de bloco. Se se dispersam, se arruína”, diz o ex-general na gravação. “É importante manter tudo o que façam sob a direção”, diz, ao que é interrompido, e completa: “que tem Capriles”.

No dia em que o vídeo foi gravado, atos de violência se alastraram por diversos Estados do país, deixando quase 80 feridos e pelo menos nove mortos – a maioria identificada com o chavismo. Após a difusão da gravação, Rivero afirmou, durante uma entrevista ao canal local Globovisión, que suas declarações foram tiradas de contexto, já que teriam cortado um trecho em que pede que os jovens  utilizem as tampas da panela para protestar, mas também para se proteger.


Rivero foi levado a audiência nesta segunda-feira e ficará preso nas instalações do Sebin. Em uma carta lida ontem por seu irmão, José Vicente Rivero, o ex-general se declara em greve de fome por ter sido “privado do mais apreciado”, afirmou, completando: “minha liberdade”. Segundo seu advogado de defesa, Guillermo Heredia, o dirigente político “se mantém firme em sua posição” e “não vai reconhecer a sentença”, que deve ser apelada nas próximas horas.

Após a decisão do tribunal, Leopoldo López, outro dirigente da sigla Vontade Popular afirmou que Rivero é o “primeiro preso político” do governo de Nicolás Maduro, quem por sua vez havia dito que os responsáveis pelos crimes cometidos não ficarão impunes. “Recorreremos a instâncias internacionais”, afirmou o político, complementando: “Não retrocederemos um centímetro, lutaremos pela liberdade de Antonio Rivero”.

Enquanto López declarava à imprensa, em frente à sede do Palácio de Justiça, no centro de Caracas, apoiadores do governo cantaram palavras de ordem como “assassino”, “Chávez vive, a luta segue” e “Não voltarão”, em alusão aos partidos políticos que governavam o país antes da chegada ao poder do falecido presidente.
Comissão

Na semana passada, uma comissão de legisladores chavistas foi criada para investigar as responsabilidades sobre a onda de violência. Nesta segunda-feira, o deputado Pedro Carreño, afirmou que os integrantes da comissão irão às regiões dos crimes para recompilar evidências e provas dos acontecimentos. Para o governo e muitos de seus apoiadores, o ex-candidato opositor é responsável por incitar os atos violentos.

No dia em que a maioria dos crimes foi registada, Capriles convocou uma manifestação contra a proclamação de Maduro como presidente, anunciada pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral), com um panelaço. Em discurso televisionado, o opositor, que não reconhece os resultados da eleição presidencial e exige uma auditoria dos votos com a utilização de cadernos de votação e verificação de digitais dos eleitores, pediu que os venezuelanos descarregassem “toda sua ‘arrechera’ (indignação)” nas panelas, mas que se manifestassem pacificamente.

De acordo um balanço das investigações divulgadas pelo Ministério Público da Venezuela no último dia 24, o saldo da onda de violência foi de nove mortes e 78 feridos. Segundo a fiscal geral da República Luisa Ortega Díaz, diferentes CDIs (Centros Médicos de Diagnóstico Integral), que integram um projeto social governista em urbanizações populares, foram incendiados e atacados. “No Estado de Carabobo, pacientes e médicos foram sequestrados por mais de três horas”, afirmou.
Movimentos sociais

Em uma marcha convocada por movimentos sociais venezuelanos na última semana, a organização Esquerda Unida montou um stand para promover um abaixo-assinado no qual pediam que Capriles e diversos líderes opositores fossem levados a julgamento pelos atos violentos cometidos no dia do protesto. O documento também incluía o nome de Nelson Bocaranda, jornalista que escreveu em seu perfil de Twitter, no dia do panelaço, que médicos cubanos estariam urnas eleitorais dentro de um CDI.
Luciana Taddeo/Opera Mundi

Venezuelanos assinam abaixo-assinado pela prisão de Capriles. Evento foi organizado por movimentos sociais em Caracas 

De acordo com Osvaldo González, que cuidava do stand, o movimento já coletou 12 mil assinaturas em apoio à solicitação. “Solicitamos que Capriles seja julgado com todo seu entorno, com todos os que se manifestaram publicamente com ele, de modo agressivo e causando tanta violência e até mortos no país”, afirmou a Opera Mundi, enquanto pendurava cartazes com a mensagem “Capriles preso já!”.

“Com o apoio do povo vamos conseguir rotundamente que esse tipo de eventos não voltem acontecer. Estes sem vergonha não foram presos, condenados, pelo que já fizeram no passado e agora estão fazendo todo o possível pra provocar uma guerra civil no país”, expressou, complementando: “Nós, que viemos da base do povo, não podemos permitir que isso continue. Aqui tem que haver justiça, não queremos mais violência no país como a que causaram esses traidores da pátria”.

Já Henry Alberto Torres, funcionário da Ouvidoria do Povo, afirmou que a melhor forma do país evoluir é ter “mão dura” com eventos como os registrados durante a onda de violência. “Assino essa petição porque é preciso que esse homem pague pelo que fez, por essas mortes de gente inocente”, explicou. “Espero que a justiça também seja aplicada para todos que atuaram junto com ele. No meu trabalho, eu evito injustiças contra muitas pessoas. Neste caso há provas, então é preciso que eles paguem pelos danos que cometeram”, concluiu.

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