quinta-feira, 16 de maio de 2013

Cientistas obtêm células-tronco de embrião humano clonado 16/05/2013

REINALDO JOSÉ LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Depois de décadas de tentativas frustradas e até de fraudes, cientistas conseguiram produzir clones humanos viáveis --embora eles não se pareçam nem um pouco com os da ficção científica.
Eles são meras células-tronco embrionárias humanas, capazes de assumir as funções de qualquer tecido do corpo.
Associated Press
Imagem divulgada pela Oregon University mostra embriões humanos clonados em desenvolvimento
Imagem divulgada pela Oregon University mostra embriões humanos clonados em desenvolvimento
Produzir essas células com as mesmas características genéticas de uma pessoa que necessita de um transplante, por exemplo, é a única razão pela qual cientistas sérios se interessaram pela clonagem.
O tema, no entanto, é sempre controverso. Pelo método usado no estudo, os embriões são destruídos para que se obtenham as células-tronco, o que já despertou reações de religiosos americanos.
"Isso envolve usar seres humanos como repositórios para obter as células desejadas. Eles estão sendo criados para ser destruídos", afirmou Tad Pacholczyk, diretor do Centro Nacional Católico de Bioética, na Filadélfia.
No Brasil, só embriões inviáveis ou congelados por mais de três anos em clínicas de fertilização podem ser usados em estudos.
Nos EUA, o método usado na pesquisa é permitido, desde que o embrião clonado não seja implantado em uma mulher para dar origem a um ser humano, o que não era o objetivo do novo estudo, liderado por Shoukhrat Mitalipov, da Universidade de Saúde e Ciência do Oregon (EUA), e publicado na revista "Cell".
Mitalipov e seus colegas foram os primeiros a realizar feito semelhante com embriões de macacos resos.
O avanço agora não foi produzir embriões por clonagem, mas conseguir que eles fossem viáveis para obter linhagens ("famílias") de células-tronco embrionárias.

Editoria de Arte/Folhapress
A clonagem envolve a transferência de um núcleo celular --região que contém o DNA-- para um óvulo cujo próprio núcleo é retirado.
O que costumava ocorrer nas tentativas anteriores é que, após o óvulo original se dividir algumas fases, o desenvolvimento embrionário parava, tornando impossível obter as células desejadas.
A equipe descobriu que alguns ajustes de metodologia --o uso de estimulação elétrica durante a fusão óvulo-núcleo e a seleção de óvulos de boa qualidade-- aumenta a eficiência do processo.
De 60 óvulos, seis produziram linhagens de células-tronco, um ótimo resultado quando se trata de clonagem.
"Bonito trabalho, desmistifica um pouco a ideia de que era um processo muito pouco eficiente", diz o biólogo brasileiro Alysson Muotri, da Universidade da Califórnia em San Diego.
Mais importante ainda, as células confirmaram sua capacidade de gerar todos os tipos de tecido do organismo.
O feito da equipe, se for confirmado, pode eliminar o estigma das fraudes cometidas em 2004 e 2005 pelo cientista coreano Hwang Woo-Suk, que havia afirmado ter obtido células-tronco de embriões humanos clonados. Era mentira e, de quebra, colaboradoras do cientista revelaram que ele as forçava a doar óvulos para a pesquisa.
O problema, no entanto, é que de lá para cá, a pesquisa na área andou, e muito. Hoje, é comum obter células-tronco com as mesmas características genéticas de adultos. São as células iPS, que foram reprogramadas para voltar ao estado embrionário.
"Com as iPS, essa pesquisa perdeu impacto", diz Lygia da Veiga Pereira, geneticista da USP. "É mais uma curiosidade", completa Mayana Zatz, também na USP.
Muotri diz não imaginar que muita gente trocaria as células iPS pelas "clonadas".
No entanto, elas poderiam ser úteis para enfrentar doenças que afetam as mitocôndrias, "usinas" de energia das células. O motivo: as células "clonadas" herdariam as mitocôndrias do óvulo doado, e não da pessoa clonada, eliminando o problema. Mas essas doenças são muito raras.

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