Protesto que se desenrolou entre as praças parisienses da Bastilha e da Nação, no domingo (5), reuniu 180 mil manifestantes. Jean-Luc Mélenchon apelou para uma "insurreição" que ponha fim a estas políticas de austeridade e disse que o período de teste para Hollande terminou.
O balanço do primeiro ano do presidente François Hollande esteve presente em todo o protesto que se desenrolou entre as praças da Bastilha e da Nação, superando as previsões dos organizadores. A Frente de Esquerda esperava 100 mil pessoas, mas a meio da tarde anunciava a presença de 180 mil manifestantes, mais 20 mil que no 1º de Maio da CGT. A desilusão com o mandato presidencial, envolvido em escândalos financeiros de fraude fiscal e incapaz de cumprir as promessas de dar um rumo diferente à economia, foi também o centro das intervenções no comício.
A manifestação foi apoiada pelo NPA e também contou com
a presença da ex-candidata às presidenciais Eva Joly, apesar dos Verdes
não terem apoiado este protesto. Joly defendeu que Hollande devia
"regressar ao espírito de Bourget", quando o então candidato
presidencial do PS designou como inimigo "a Finança". O orador seguinte
foi o líder do PCF, Pierre Laurent, que falou num "ano perdido para a
mudança. Isto é demais e não o aceitamos", afirmou.
No discurso de Jean-Luc Mélenchon, voltaram a ouvir-se
apelos a uma "insurreição" que ponha fim a estas políticas de
austeridade. Não se pouparam críticas a Hollande, sem o nomear, zurzindo
no "pequeno monarca fora de controle" e símbolo de uma "monarquia
vertical que permite à finança estender os seus tentáculos".
"O período de teste terminou" para o presidente
francês, avisou Mélenchon. "E se você não sabe como fazer, nós sabemos",
acrescentou o ex-candidato presidencial, sublinhando que "nós não
mudamos de opinião, não queremos a finança no poder nem aceitamos as
políticas de austeridade". O líder da Frente de Esquerda tinha apelado a
uma "varridela" do sistema político francês neste domingo e muitos
manifestantes trouxeram as vassouras de casa, em defesa de uma VI
República fundada por uma Assembleia Constituinte que não inclua as
figuras que tenham passado pelo poder executivo ou legislativo. "Nada é
mais poderoso do que uma ideia cujo tempo chegou", concluiu Mélenchon,
terminando o comício com esta citação de Victor Hugo.
Sempre de cravo vermelho ao peito, Mélenchon disse ao
correspondente do Expresso em Paris que "não deixaremos que matem
Portugal nem nenhum país vítima da finança" e recordou que no Chipre
"assistimos a um golpe de Estado da finança na Europa", mas que "as
dívidas nunca serão pagas, com um pouco de inflação apaga-se a dívida, a
inflação é melhor que a morte, a bancarrota ou a guerra!", exclamou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário