“The self-defeating fuite en avant of the US in the Ukraine”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
The Saker
Os últimos dias viram impressionante aceleração nos desenvolvimentos, que criou situação totalmente nova. Em termos simples e claros, ocorreram os três seguintes importantes eventos:
Em Kiev, uma insurreição armada derrubou presidente eleito e substituiu-o por um regime revolucionário.
A Crimeia rompeu completamente com o resto da Ucrânia.
Uma insurreição contrarrevolucionária começou no leste da Ucrânia.
A situação no leste da Ucrânia é complexa, e não quero tratar disso nesse momento. Aqui, me proponho a re-fixar alguns fatos bem sabidos, organizá-los e fazer um exercício básico de “contrastar e comparar” os dois regimes/entidades bem claramente definidos que passaram a formar a Ucrânia: o regime revolucionário em Kiev (daqui em diante, a fórmula abreviada RRKiev); e o regime secessionista na Crimeia (daqui em diante, a fórmula abreviada RSCrimeia).
Acho que esse exercício nos permitirá apreciar as decisões tomadas pelos diferentes governos, de apoiar um lado ou o outro, e nos fornecerá, espero, itens para discussão útil. Por fim, repito que só considerarei fatos bem sabidos e tentarei não fazer nenhuma afirmação excessivamente carregada de minhas opiniões pessoais, o que deixarei para a conclusão.
Comparemos, então o RRKiev e o RSCrimeia, por um conjunto básico de critérios.
1) Bases legais do regime:
RRKiev: chegou ao poder mediante derrubada violenta do último presidente legalmente eleito. Em seguida, um autodesignado grupo de ativistas políticos distribuiu entre eles os principais cargos do governo e foi à praça Maidan para obter a aprovação da multidão ali reunida. Alguns nomes parecem ter sido aprovados, outros foram vaiados, mas todos foram declarados aprovados. Não se sabe quantas pessoas havia naquele momento na praça Maidan, nem se alguém tem qualquer informação sobre quem estava ali.
RSCrimeia: chegou ao poder depois de declarar pacificamente que as autoridades locais assumiriam temporariamente todas as funções locais da autoridade federal que, naquele momento, já havia sido derrubada pelo RRKiev. Em algumas cidades, os ex-prefeitos nomeados pelo regime de Yanukovich foram substituídos por locais, também eleitos por aclamação de massas nas praças.
Forças especiais apareceram na Crimeia logo ao amanhecer
2) Legalidade das respectivas decisões:
RRKiev: Dado que o ex-presidente fugiu, mas nunca renunciou, nenhuma das decisões do RRKiev são legais, nem pela velha Constituição, nem pela nova.
RSCrimeia: O ato de assumir os poderes das autoridades federais foi ilegal; mas, considerando-se que a autoridade federal naquele momento já não existia, pode-se ver aí um caso de “força maior”.
3) Apoio popular:
RRKiev: segundo muitos relatos, o RRKiev tem apoio da maioria no oeste da Ucrânia, na Ucrânia central, incluindo Kiev, e na Ucrânia norte-central; e tem apoio de uma minoria em algumas partes do leste da Ucrânia. Em outras palavras, e considerando a densidade populacional (mapa abaixo), é altamente improvável que mais de 50% da população, nas áreas controladas pelo RRKiev, realmente apoie o regime.
Mapa da Ucrânia com cidades principais e densidade populacional por região
RSCrimeia: Pela minha estimativa, a vasta maioria dos falantes de russo na Crimeia apoiam o RSCrimeia, algo da ordem de 95% ou mais; e acredito que considerável maioria dos tártaros também o apóiam. Mas, ainda que se assuma oposição de 100% dos tártaros e 15% de oposição entre falantes de russo e ucraniano, mesmo assim se tem nada menos que 75% de apoio ao RSCrimeia.
4) Patrões estrangeiros:
RRKiev: seja qual foi o grau de apoio popular ao RRKiev na parte da Ucrânia que controla, não há nenhuma dúvida de que os seus líderes políticos foram nomeados, basicamente, pelos EUA (foi o que disse a sra. Nuland). Além disso, também sabemos que os EUA gastaram 5 bilhões de dólares para derrubar o governo de Yanukovich. Quanto às gangues armadas que gradualmente encheram a praça Maidan, há vários relatos de que se tratava de grupos especialmente treinados do chamado Setor Direita (Pravy Sektor), treinados nos estados do Báltico, na Polônia e no Canadá. Em outras palavras, o RRKiev é, da cabeça aos pés, invenção do ocidente.
RSCrimeia: pode-se especular sobre o que teria acontecido, se os militares russos não interviessem na Crimeia; mas o fato é que, sim, intervieram. Há fortes evidências de que os “misteriosos” homens armados que apareceram repentinamente na Crimeia sejam parte das Forças Especiais russas (que já tinham 20 anos de existência, quando a KGB foi criada), Spetsnaz GRU,provavelmente a 3ª Brigada Independente Spetsnaz, que tem base na cidade de Toliatti, possivelmente suplementada com elementos da 15ª brigada ou da 31ª divisão de pacificadores. Em outras palavras, o RSCrimeia é plenamente apoiado pela Rússia, a qual também prometeu apoio financeiro.
5) Ideologia:
RRKiev: ninguém nega que o Partido Liberdade e o Setor Direita são neonazistas e racistas. Os demais partidos que apoiam o RRKiev podem ser descritos como “nacionalistas”, mas nacionalistas do tipo que não se incomodam de trabalhar de mãos dadas com neonazistas (ambos, Tiagnibok e Iarosh receberam posições de destaque no novo governo).
Nessa campo, também chama a atenção que as primeiras duas leis (ilegalmente) implantadas pelo (ilegal) “Parlamento” (Rada) revolucionário foram leis para reautorizar a propaganda do fascismo, uma; e para revogar o status do russo como idioma oficial (agora, o RRKiev já “revogou essa revogação”), a outra. Os comícios dos nacionalistas estão cheios de fotos de Stepan Bandera e de símbolos neonazistas, que os ditos “moderados” não removem. O objetivo desses é uma Ucrânia unitária, à imagem e semelhança do oeste da Ucrânia.
RSCrimeia: não tem qualquer ideologia clara, absolutamente nenhuma. Não é insensato supor que alguns de seus apoiadores sejam comunistas, mas de modo algum significam alguma maioria. É movimento claramente pró-Rússia, o que implica que podem ser rotulados simultaneamente de “capitalistas” (a Rússia é sociedade capitalista e, possivelmente, de “putinistas”, embora isso não esteja, de modo algum, confirmado. O seu objetivo é uma Crimeia multiétnica, que viva como estado soberano numa confederação ucraniana.
Neonazistas: atual "Exército" ucraniano
6) Prognóstico:
Nessa campo, também chama a atenção que as primeiras duas leis (ilegalmente) implantadas pelo (ilegal) “Parlamento” (Rada) revolucionário foram leis para reautorizar a propaganda do fascismo, uma; e para revogar o status do russo como idioma oficial (agora, o RRKiev já “revogou essa revogação”), a outra. Os comícios dos nacionalistas estão cheios de fotos de Stepan Bandera e de símbolos neonazistas, que os ditos “moderados” não removem. O objetivo desses é uma Ucrânia unitária, à imagem e semelhança do oeste da Ucrânia.
RSCrimeia: não tem qualquer ideologia clara, absolutamente nenhuma. Não é insensato supor que alguns de seus apoiadores sejam comunistas, mas de modo algum significam alguma maioria. É movimento claramente pró-Rússia, o que implica que podem ser rotulados simultaneamente de “capitalistas” (a Rússia é sociedade capitalista e, possivelmente, de “putinistas”, embora isso não esteja, de modo algum, confirmado. O seu objetivo é uma Crimeia multiétnica, que viva como estado soberano numa confederação ucraniana.
Neonazistas: atual "Exército" ucraniano
6) Prognóstico:
RRKiev: muito depende da situação no leste da Ucrânia, onde parece estar ganhando poder e decisão uma insurreição contra o RRKiev, o que pode levar a uma verdadeira guerra civil. Mas mesmo assumindo que nada aconteça no leste, o próprio Iatseniuk já disse claramente que não há dinheiro algum, e que todo o seu governo é um “governo kamikaze”. O RRKiev não tem exército, nem política, nem nada e ninguém para garantir a lei e a ordem. A Rússia interromperá o apoio financeiro ao RRKiev e só venderá gás russo ao preço “sem desconto”. Nesse ponto, uma explosão social é simplesmente inevitável. Já há falta de bens de consumo por todos os lados e muitas empresas e lojas permanecem fechadas.
RSCrimeia: a RSCrimeia tem absoluto monopólio do poder na Crimeia; e, graças às muitas deserções que aconteceram nas últimas 24 horas, a RSCrimeia já tem exército, polícia própria, forças especiais próprias (Berkut) e já tem até seu próprio serviço de segurança (o Serviço de Segurança da Ucrânia na Crimeia mudou de lado). Não só a Rússia prometeu ajudar financeiramente a RSCrimeia, como, também a RSCrimeia tem fonte garantida de recursos graças ao aluguel, à Rússia, das bases da Frota do Mar Negro e graças, também, ao fluxo intenso de ricos turistas russos (cerca de 6 milhões deles, por ano). Hoje, na Crimeia, todas as lojas e restaurantes estão abertos, funcionando normalmente, e os negócios prosseguem como sempre, sem qualquer sinal de tensões sociais.
Agora, consolidemos tudo isso:
– Os EUA e a União Europeia apostaram todo o próprio peso e toda a sua credibilidade política num regime que:
É ilegal e chegou ao poder mediante violência.
Não tem qualquer direito para ‘aprovar’ lei alguma.
Cujo apoio popular é, na melhor das hipóteses, muito duvidoso.
Que é, da cabeça aos pés, invenção do ocidente.
Cuja ideologia é basicamente neonazista e/ou nacionalista fanática.
O qual, aconteça o que acontecer, está condenado ao desastre.
– A Rússia apostou todo o próprio peso e toda sua credibilidade política num regime que:
Tem instrumentos para demonstrar a própria legalidade, pelo menos no território que controla.
Que foi forçado a temporariamente extrapolar os próprios direitos legais.
Que claramente conta com pleno apoio da maioria da população.
Que pode contar, integralmente, com o poder bélico russo para sua proteção.
Cuja ideologia é social/liberal e pluralista.
Que tem todos os meios necessários para ser bem-sucedido.
Pelo acima exposto, entendo que é inegável que o ocidente não está apenas apoiando o lado errado; a decisão do ocidente é não só absolutamente imoral: também é espantosamente estreita, de visão curta e deformada.
Neonazistas carregam efígie de Stepan Bandera, ex comandante nazista na IIa. Guerra
O que temos aí, na atitude do ocidente é caso claro do que se conhece como “fuga para adiante”: alguém faz algo clara e obviamente mal feito; na sequência, assustado ante o que fez, com medo das consequências, em vez de parar e retroceder, decide acelerar e continuar adiante, com ainda mais velocidade.
Diferente disso, a decisão dos russos não é só moralmente correta: ela é também pragmaticamente correta. Mas, aí, há mais do que simples pragmatismo.
Já escrevi há alguns dias que, para os EUA, destroçar a Ucrânia é um meio de não entregá-la à Rússia. É lógica parecida com a da Guerra Fria, jogo de soma zero e um modo de obrigar a Rússia a pagar por manter-se independente do Império Anglo-sionista. Além disso, é crise claramente “opcional” para os EUA, conflito que realmente não tem qualquer impacto na segurança nacional dos EUA. Para a Rússia isso é bem diferente.
Para a Rússia, o conflito na Ucrânia tornou-se questão existencial. Durante 20 anos a Rússia lidou com regimes ucranianos corruptos, oligárquicos, pró-ocidente e anti-Rússia, que chantagearam a Rússia e a Europa nos negócios dos gasodutos e que imprimiam selos com a efígie de Stepan Bandera (que Yushchenko tornou “herói da Ucrânia"). Mesmo quando a Ucrânia enviou neonazistas para apoiar os waabistas chechenos armados até os dentes por Saakashvili, a Rússia nada fez além denunciar os golpes (nenhum ocidente “democrático” deu-lhe ouvidos). Mas, quando ficou claro que milhões de russos e de ucranianos falantes de russo estavam sendo ameaçados por neonazistas, e que, se não houvesse reação, seria inevitável um banho de sangue no leste da Ucrânia, a Rússia decidiu agir: não só para proteger seus cidadãos, ameaçados noutro país; também para se autoproteger.
Há outro fenômeno também em andamento. Diferentes dos EUA e da Europa, os russos tem memória muito mais longa. Enquanto no ocidente ninguém sequer se dá ao trabalho de lembrar-se disso, os russos nunca esquecem a promessa feita a Gorbachev, de que a OTAN não se moveria para o leste; os russos lembram-se dos EUA bombardeando e invadindo a Bósnia e o Kosovo; os russos lembram que o ocidente apoiou dos wahabistas chechenos e oligarcas judeus como Berezovsky; que o ocidente deu integral apoio ao ataque de Saakashvili contra as tropas de paz russas e o povo da Ossétia do Sul; lembram-se da instalação de mísseis cercando a Rússia; lembram a guerra contra a Líbia; nunca esquecem o massacre da Síria, patrocinado por EUA e União Europeia. E, como um comentarista disse ontem: “desta vez não se trata de sírios nem de ucranianos. Agora é conosco, trata-se de nós. Nós somos os próximos, na fila”.
Alguém escreveu, nos Comentários abaixo, que dei importância demasiada à decisão unânime na Duma e no Conselho da Federação Russa, de autorizar o uso da força, porque esses órgãos são controlados pelo Kremlin e apenas sacramentam tudo que Putin diga.
Soldado russo sobre veículo blindado na Crimeia (bandeira russa ao fundo)
Primeiro, embora haja alguma verdade aí, não é absoluta e completa verdade. E esse tipo de argumento ignora, ou passa sem ver, a força da insatisfação crescente, até da ira, com que aqueles políticos reagiram, mais como resposta ao Kremlin, do que como se tivessem recebido ordens. Portanto, quando escrevi que“a Rússia está pronta para a guerra”, eu não exagerei.
É verdade que, no grande público, ninguém acredita que haverá guerra: a maioria dos russos acha que Obama, Merkel & Co. correrão espavoridos, no instante em que Putin mostrar-lhe os dentes. Mas não é essa a opinião, nem do Kremlin, nem do Alto Comando russo. Esse pessoal SABE que muitas guerras podem começar pelas razões erradas, que o uso da força é sempre perigoso, que antes de usar força militar é indispensável pesar cada uma e todas as possíveis consequências, que todos os efeitos têm de ser cuidadosamente calculados e avaliados.
Eles sabem também que Obama é o pior e mais incompetente presidente da história dos EUA, e que eles não podem, em momento algum, pressupor que ele fará a coisa racional, pragmática, mesmo que só no interesse dele e dos EUA.
Não tenho dúvida alguma de que, quando os militares russos tomaram a decisão de dizer a Putin “podemos fazer”, eles já tinham analisado detidamente até a improvável possibilidade de uma resposta militar dos EUA/OTAN, fosse para proteger o regime em Kiev, ou mesmo na Crimeia (onde, no passado, uma coalizão internacional liderada por potências Anglo já atacou a Rússia).
Soldado russo patrulha a passagem de veículos blindados na Crimeia
Os russos não fazem coisas como mandar seus Marines para Beirute ou para a Somália. Se usam força militar comprometem-se com o que fazem. Nesse caso, é óbvio que entenderam que não tinham outra escolha além de traçar linha muito grossa e clara na areia, para impedir qualquer tipo de agressão norte-americana “por procuração”.
Obama e os neocons:
Vários e-mails sugeriam que os neocons impuseram essa situação a Obama, que não precisa de nada disso. Não discordo completamente dessa versão. Todos sabemos que os Republicanos negociaram com os iranianos pelas costas de Carter; todos sabemos que os Republicanos muito se orgulham de sua tradição de não dar importância a legalidades. E, de fato, o próprio governo de Obama está cheio de neoconservadores.
Mas nada disso pode servir como desculpa.
Ainda que Obama se tivesse deixado prender, refém de uma operação comandada pelas costas dele, nem por isso tinha de agir como perfeito covarde e apoiar a operação, quando afinal apareceu à vista de todos. Sim, sei que Kennedy foi assassinado porque, dentre outras coisas, não apoiou a ação da Baía dos Porcos. E daí?! Isso só comprova o meu ponto: Kennedy não era covarde sem espinha dorsal; e isso, precisamente, é o que Obama é. Como também são a Merkel, Hollande e o resto da União Europeia.
E assim vemos os tais 1%, sempre ativos: reuniões de emergência no Quartel-General da OTAN, condenações à Rússia no G7, Kerry a fazer mais ameaças por televisão e Powers, na ONU. Todos eles estão em surto de fuga para adiante. Têm esperanças de que, quanto mais palavras disserem, quanto mais altos e grandiloquentes as “declarações” que façam, melhor, até que alguma coisa se altere em campo. Nada se alterará. Esses rituais supersticiosos, esse pensamento mágico, não funciona na vida real.
Agora, há duas possibilidades: ou começa uma guerra civil no leste da Ucrânia, ou o RRKiev entra simplesmente em colapso e desaparece no ar (possibilidade muito real).
Afinal, o que pode fazer sem dinheiro e sem recursos básicos? Cantar o hino da Ucrânia e culpar Moscou por tudo? Não parece ser bom projeto ou programa.
Por mais que a imprensa-empresa sionista ocidental dedique-se a esconder esse fato, ninguém – quero dizer NINGUÉM, mesmo – no novo regime tem qualquer ideia sobre o que fazer para enfrentar os problemas atuais. Até agora, o melhor que conseguiram foi nomear um oligarca multibilionário para governar o leste e o sudeste da Ucrânia. Vejam, por exemplo, essa manchete do Kyiv Post:
“Oligarcas avançam para salvar a soberania da Ucrânia”
Seria hilário, não fosse tão trágico: o regime revolucionário que se diz “anticorrupção”, nomeou oligarcas para salvarem a Ucrânia. Quando vi essa manchete senti, realmente, que estamos entrando em território “Além da Imaginação”, lugar qualquer onde podem acontecer as coisas mais ridículas, mais loucas. Disso se fazem bons filmes, mas, em política, é receita de desastre.
Igor Kolomoisky (D), o proprietário bilionário do controverso PrivatBank, foi nomeado para dirigir Dnipropetrovsk Oblast e Serhiy Taruta (E), proprietário da União Industrial de Donbass, está assumindo a administração Donetsk Oblast. O Presidente Interino Olekandr Turchynov fez essas nomeações em 2/3/2014.
Claro que os tais oligarcas têm mais dinheiro que o RRKiev, mas fizeram o dinheiro deles roubando a Ucrânia, até deixá-la como está. E se alguém aí pensa que os russos negociarão com esses dois bandidos, estão sonhando.
Como escrevi em novembro, as portas do inferno estão-se abrindo para a Ucrânia. O mais impressionante é que toda a classe governante do ocidente inteiro não só parece decidida a empurrar a Ucrânia lá para dentro, como, também, já corre o risco de entrar junto.
Juro pela minha alma: não consigo imaginar política mais autodestrutiva, perigosa, imoral e estúpida.
The Saker
POSTADO POR CASTOR FILHO
RSCrimeia: a RSCrimeia tem absoluto monopólio do poder na Crimeia; e, graças às muitas deserções que aconteceram nas últimas 24 horas, a RSCrimeia já tem exército, polícia própria, forças especiais próprias (Berkut) e já tem até seu próprio serviço de segurança (o Serviço de Segurança da Ucrânia na Crimeia mudou de lado). Não só a Rússia prometeu ajudar financeiramente a RSCrimeia, como, também a RSCrimeia tem fonte garantida de recursos graças ao aluguel, à Rússia, das bases da Frota do Mar Negro e graças, também, ao fluxo intenso de ricos turistas russos (cerca de 6 milhões deles, por ano). Hoje, na Crimeia, todas as lojas e restaurantes estão abertos, funcionando normalmente, e os negócios prosseguem como sempre, sem qualquer sinal de tensões sociais.
Agora, consolidemos tudo isso:
– Os EUA e a União Europeia apostaram todo o próprio peso e toda a sua credibilidade política num regime que:
É ilegal e chegou ao poder mediante violência.
Não tem qualquer direito para ‘aprovar’ lei alguma.
Cujo apoio popular é, na melhor das hipóteses, muito duvidoso.
Que é, da cabeça aos pés, invenção do ocidente.
Cuja ideologia é basicamente neonazista e/ou nacionalista fanática.
O qual, aconteça o que acontecer, está condenado ao desastre.
– A Rússia apostou todo o próprio peso e toda sua credibilidade política num regime que:
Tem instrumentos para demonstrar a própria legalidade, pelo menos no território que controla.
Que foi forçado a temporariamente extrapolar os próprios direitos legais.
Que claramente conta com pleno apoio da maioria da população.
Que pode contar, integralmente, com o poder bélico russo para sua proteção.
Cuja ideologia é social/liberal e pluralista.
Que tem todos os meios necessários para ser bem-sucedido.
Pelo acima exposto, entendo que é inegável que o ocidente não está apenas apoiando o lado errado; a decisão do ocidente é não só absolutamente imoral: também é espantosamente estreita, de visão curta e deformada.
Neonazistas carregam efígie de Stepan Bandera, ex comandante nazista na IIa. Guerra
O que temos aí, na atitude do ocidente é caso claro do que se conhece como “fuga para adiante”: alguém faz algo clara e obviamente mal feito; na sequência, assustado ante o que fez, com medo das consequências, em vez de parar e retroceder, decide acelerar e continuar adiante, com ainda mais velocidade.
Diferente disso, a decisão dos russos não é só moralmente correta: ela é também pragmaticamente correta. Mas, aí, há mais do que simples pragmatismo.
Já escrevi há alguns dias que, para os EUA, destroçar a Ucrânia é um meio de não entregá-la à Rússia. É lógica parecida com a da Guerra Fria, jogo de soma zero e um modo de obrigar a Rússia a pagar por manter-se independente do Império Anglo-sionista. Além disso, é crise claramente “opcional” para os EUA, conflito que realmente não tem qualquer impacto na segurança nacional dos EUA. Para a Rússia isso é bem diferente.
Para a Rússia, o conflito na Ucrânia tornou-se questão existencial. Durante 20 anos a Rússia lidou com regimes ucranianos corruptos, oligárquicos, pró-ocidente e anti-Rússia, que chantagearam a Rússia e a Europa nos negócios dos gasodutos e que imprimiam selos com a efígie de Stepan Bandera (que Yushchenko tornou “herói da Ucrânia"). Mesmo quando a Ucrânia enviou neonazistas para apoiar os waabistas chechenos armados até os dentes por Saakashvili, a Rússia nada fez além denunciar os golpes (nenhum ocidente “democrático” deu-lhe ouvidos). Mas, quando ficou claro que milhões de russos e de ucranianos falantes de russo estavam sendo ameaçados por neonazistas, e que, se não houvesse reação, seria inevitável um banho de sangue no leste da Ucrânia, a Rússia decidiu agir: não só para proteger seus cidadãos, ameaçados noutro país; também para se autoproteger.
Há outro fenômeno também em andamento. Diferentes dos EUA e da Europa, os russos tem memória muito mais longa. Enquanto no ocidente ninguém sequer se dá ao trabalho de lembrar-se disso, os russos nunca esquecem a promessa feita a Gorbachev, de que a OTAN não se moveria para o leste; os russos lembram-se dos EUA bombardeando e invadindo a Bósnia e o Kosovo; os russos lembram que o ocidente apoiou dos wahabistas chechenos e oligarcas judeus como Berezovsky; que o ocidente deu integral apoio ao ataque de Saakashvili contra as tropas de paz russas e o povo da Ossétia do Sul; lembram-se da instalação de mísseis cercando a Rússia; lembram a guerra contra a Líbia; nunca esquecem o massacre da Síria, patrocinado por EUA e União Europeia. E, como um comentarista disse ontem: “desta vez não se trata de sírios nem de ucranianos. Agora é conosco, trata-se de nós. Nós somos os próximos, na fila”.
Alguém escreveu, nos Comentários abaixo, que dei importância demasiada à decisão unânime na Duma e no Conselho da Federação Russa, de autorizar o uso da força, porque esses órgãos são controlados pelo Kremlin e apenas sacramentam tudo que Putin diga.
Soldado russo sobre veículo blindado na Crimeia (bandeira russa ao fundo)
Primeiro, embora haja alguma verdade aí, não é absoluta e completa verdade. E esse tipo de argumento ignora, ou passa sem ver, a força da insatisfação crescente, até da ira, com que aqueles políticos reagiram, mais como resposta ao Kremlin, do que como se tivessem recebido ordens. Portanto, quando escrevi que“a Rússia está pronta para a guerra”, eu não exagerei.
É verdade que, no grande público, ninguém acredita que haverá guerra: a maioria dos russos acha que Obama, Merkel & Co. correrão espavoridos, no instante em que Putin mostrar-lhe os dentes. Mas não é essa a opinião, nem do Kremlin, nem do Alto Comando russo. Esse pessoal SABE que muitas guerras podem começar pelas razões erradas, que o uso da força é sempre perigoso, que antes de usar força militar é indispensável pesar cada uma e todas as possíveis consequências, que todos os efeitos têm de ser cuidadosamente calculados e avaliados.
Eles sabem também que Obama é o pior e mais incompetente presidente da história dos EUA, e que eles não podem, em momento algum, pressupor que ele fará a coisa racional, pragmática, mesmo que só no interesse dele e dos EUA.
Não tenho dúvida alguma de que, quando os militares russos tomaram a decisão de dizer a Putin “podemos fazer”, eles já tinham analisado detidamente até a improvável possibilidade de uma resposta militar dos EUA/OTAN, fosse para proteger o regime em Kiev, ou mesmo na Crimeia (onde, no passado, uma coalizão internacional liderada por potências Anglo já atacou a Rússia).
Soldado russo patrulha a passagem de veículos blindados na Crimeia
Os russos não fazem coisas como mandar seus Marines para Beirute ou para a Somália. Se usam força militar comprometem-se com o que fazem. Nesse caso, é óbvio que entenderam que não tinham outra escolha além de traçar linha muito grossa e clara na areia, para impedir qualquer tipo de agressão norte-americana “por procuração”.
Obama e os neocons:
Vários e-mails sugeriam que os neocons impuseram essa situação a Obama, que não precisa de nada disso. Não discordo completamente dessa versão. Todos sabemos que os Republicanos negociaram com os iranianos pelas costas de Carter; todos sabemos que os Republicanos muito se orgulham de sua tradição de não dar importância a legalidades. E, de fato, o próprio governo de Obama está cheio de neoconservadores.
Mas nada disso pode servir como desculpa.
Ainda que Obama se tivesse deixado prender, refém de uma operação comandada pelas costas dele, nem por isso tinha de agir como perfeito covarde e apoiar a operação, quando afinal apareceu à vista de todos. Sim, sei que Kennedy foi assassinado porque, dentre outras coisas, não apoiou a ação da Baía dos Porcos. E daí?! Isso só comprova o meu ponto: Kennedy não era covarde sem espinha dorsal; e isso, precisamente, é o que Obama é. Como também são a Merkel, Hollande e o resto da União Europeia.
E assim vemos os tais 1%, sempre ativos: reuniões de emergência no Quartel-General da OTAN, condenações à Rússia no G7, Kerry a fazer mais ameaças por televisão e Powers, na ONU. Todos eles estão em surto de fuga para adiante. Têm esperanças de que, quanto mais palavras disserem, quanto mais altos e grandiloquentes as “declarações” que façam, melhor, até que alguma coisa se altere em campo. Nada se alterará. Esses rituais supersticiosos, esse pensamento mágico, não funciona na vida real.
Agora, há duas possibilidades: ou começa uma guerra civil no leste da Ucrânia, ou o RRKiev entra simplesmente em colapso e desaparece no ar (possibilidade muito real).
Afinal, o que pode fazer sem dinheiro e sem recursos básicos? Cantar o hino da Ucrânia e culpar Moscou por tudo? Não parece ser bom projeto ou programa.
Por mais que a imprensa-empresa sionista ocidental dedique-se a esconder esse fato, ninguém – quero dizer NINGUÉM, mesmo – no novo regime tem qualquer ideia sobre o que fazer para enfrentar os problemas atuais. Até agora, o melhor que conseguiram foi nomear um oligarca multibilionário para governar o leste e o sudeste da Ucrânia. Vejam, por exemplo, essa manchete do Kyiv Post:
“Oligarcas avançam para salvar a soberania da Ucrânia”
Seria hilário, não fosse tão trágico: o regime revolucionário que se diz “anticorrupção”, nomeou oligarcas para salvarem a Ucrânia. Quando vi essa manchete senti, realmente, que estamos entrando em território “Além da Imaginação”, lugar qualquer onde podem acontecer as coisas mais ridículas, mais loucas. Disso se fazem bons filmes, mas, em política, é receita de desastre.
Igor Kolomoisky (D), o proprietário bilionário do controverso PrivatBank, foi nomeado para dirigir Dnipropetrovsk Oblast e Serhiy Taruta (E), proprietário da União Industrial de Donbass, está assumindo a administração Donetsk Oblast. O Presidente Interino Olekandr Turchynov fez essas nomeações em 2/3/2014.
Claro que os tais oligarcas têm mais dinheiro que o RRKiev, mas fizeram o dinheiro deles roubando a Ucrânia, até deixá-la como está. E se alguém aí pensa que os russos negociarão com esses dois bandidos, estão sonhando.
Como escrevi em novembro, as portas do inferno estão-se abrindo para a Ucrânia. O mais impressionante é que toda a classe governante do ocidente inteiro não só parece decidida a empurrar a Ucrânia lá para dentro, como, também, já corre o risco de entrar junto.
Juro pela minha alma: não consigo imaginar política mais autodestrutiva, perigosa, imoral e estúpida.
The Saker
POSTADO POR CASTOR FILHO
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