domingo, 15 de abril de 2012

Ascensão e morte do capitalismo extrativista 15/04/2012


James Petras


Proposição geral: A reprimarização da economia (ReprE) envolve uma comutação da industrialização por substituição diversificada de importações para a dependência agravada das exportações agro-minerais.

Henry Veltmeyer
A ReprE é especialmente evidente e adotada por regimes de centro-esquerda (RECE) resultantes de movimentos populares que derrubaram regimes neoliberais.
A ReprE é promovida sob as bandeiras do anti-neoliberalismo e até do antiimperialismo, mesmo quando os RECE assinam contratos a longo prazo e em grande escala com uma vasta gama de multinacionais que se tornaram os atores econômicos principais nas suas estratégias de crescimento.
A política da ReprE é uma adaptação pragmática a várias circunstâncias internas e externas: A incapacidade ou as dificuldade de sectores privados e estatais para desenvolverem uma economia nacional industrializada de alta tecnologia e as oportunidades, altos preços e exploração relativamente lucrativa de mercados internacionais na Ásia através de parcerias com multinacionais.
Ao confiarem no capitalismo extrativista os regimes de centro-esquerda transformam-se em complexos estados rentistas que arrecadam royalties, “rendas”, com a exportação de matérias-primas.
Os ciclos de mercadorias do passado são substituídos por “megaciclos”, pois preços favoráveis ao longo de uma década substituem a flutuação de preço anual. A entrada constante de receitas leva a orçamentos estáveis e financia importações sem orçamentos e déficits comerciais súbitos e abruptos (e problemas de balança de pagamentos).
A acumulação de reservas estrangeiras, disciplina orçamental, responsabilidade fiscal apertada – essencialmente políticas fiscais de estado ortodoxas – assegura entradas de capital e a valorização da divisa local. A valorização da divisa mais uma vez acentua a ReprE pois os produtos industriais perdem competitividade de preço devido aos altos custos de produção.
A ReprE paradoxalmente torna-se parte de uma síndrome de estabilização na economia mundial. O crescimento estável e a longo prazo, uma divisa estável, finanças estáveis, contas externas estáveis, orçamentos estáveis, relativa estabilidade social e política e reeleição ou continuidade dos responsáveis executivos (presidentes) são características essenciais desta síndrome.
Em contraste com a UE e os EUA, a ReprE latino-americana não enfrenta crises ficais, financeiras e de balança de pagamentos, nem tampouco o nível de inquietação social que se acha no sul da Europa.
O resultado divergente entre os EUA/UE e a América Latina decorre de diferenças nos regimes de desregulamentação: os primeiros desregulamentarem o setor financeiro prejudicando os setores produtivos através da criação de economias hiper-financeiras sujeitas a grave manipulação de mercado por parte de especuladores. Os últimos desregulamentaram o setor extrativo em resposta à ascensão da procura asiática pelos seus produtos, levando a investimentos em grande escala e a longo prazo, crescimento firme e retornos lucrativos.
A justaposição da ideologia anti-imperialista e da ReprE levou a uma polarização dual: por um lado entre os “regimes de centro-esquerda” e o establishment de Washington e por outro entre coligações público-privadas extrativistas e as comunidades ecoindígenas.
Durante a maior parte da última década, os Regimes Extrativistas de Centro-Esquerda (RECE) dependentes de exportações primárias obtiveram os melhores resultados do conflito tanto com os seus adversários externos como internos.
Devido à diversificação dos seus mercados, aos preços sistematicamente elevados para as suas exportações e a contratos renegociados com as multinacionais que aumentam receitas do estado, os RECE resistiram com êxito à pressão econômica dos EUA e evitaram depender do FMI. Como têm balanças comerciais positivas e muitas reservas estrangeiras, não têm necessidade de empréstimos para a balança de pagamentos e formaram alianças regionais latino-americanas (ALBA) que proporcionam um certo grau de segurança em relação à intervenção dos EUA.
Devido às suas receitas substanciais e ao crescimento razoavelmente alto e estável, os RECE têm sido capazes de financiar programas de pobreza, conceder concessões salariais, expandir despesas sociais e cooptar sectores da liderança dos sindicatos e movimentos sociais. Aproveitando a sua retórica anti-imperialista, apelos populistas e organização eleitoral clientelista, os RECE reiteradamente e decisivamente repeliram desafios da direita tradicional pró EUA e isolaram e marginalizaram desafios eleitorais dos movimentos sociais ecoindígenas e da esquerda radical.
Perfil e desempenho dos RECE
Os RECE presidiram mais de uma década de crescimento constante no PNB oscilando entre 3 e 8 por cento. O crescimento no setor extrativo, tanto em termos de investimento, comércio, receitas, produção por vezes excedeu os dois dígitos. Novos investimentos de longo prazo em grande escala estão em vias de serem realizados e há poucos sinais de que o mega ciclo esteja chegar a um fim.
Não é tudo um mar de rosas: protestos de camponeses indianos levaram a algum bloqueio e mesmo cancelamentos de acordos mineiros e greves em minas levaram a alguma redução temporária da produção. O prognóstico para o futuro imediato é de uma continuação da passada década de crescimento, mudanças incrementais e dependência continuada do sector extrativo como força motriz do crescimento.
Contudo, o perfil político e econômico apresenta algumas vulnerabilidades profundas no médio prazo, especialmente devido ao declínio da diversidade econômica e da alta dependência de mercados para bens primários. Além disso, a maior parte dos regimes RECE é baseada sobre líderes em exercício altamente personalistas, cujo papel é limitado e cujo carisma proporciona a “cola” que mantém juntos os elementos contraditórios – multinacionais e classes populares.
Vulnerabilidades dos RECE
Apesar dos êxitos macroeconômicos e eleitorais dos RECE, a estratégia de desenvolvimento está sujeita a um certo número de vulnerabilidades que são prejudiciais à grande maioria da população trabalhadora e ameaça a sustentabilidade do modelo.
Prosseguiremos listando os indicadores chave de desempenho em modo telegráfico acompanhados por um breve comentário.
Indicadores econômicos
Produtos primários são uma percentagem crescente dos rendimentos de exportação da América Latina, especialmente entre os RECE. Isto é uma causa e consequência do declínio da atividade industrial e o resultado de uma estratégia deliberada de regime. Historicamente, a dependência de exportações de mercadorias primárias levou a grande volatilidade na economia, a uma estrutura de classe altamente polarizada e ao domínio oligárquico.
A concentração nas exportações de produtos primários tem sido acompanhada pela crescente concentração da propriedade, especialmente do capital estrangeiro no setor extrativo muitas vezes em associação com tecnocratas do setor público com estreitos laços passado e provavelmente futuros com o setor privado. Um conjunto paralelo de lucrativas consultorias satélite emerge juntamente com estabelecimentos de investimento voltados para negociações, fusões e aquisições, para ampliar o âmbito de operações de joint ventures. A concentração de propriedade está estreitamente correlacionada com o crescimento de megamilionários e a concentração de riqueza. Firmas privadas capitalistas nacionais e bancárias aderem à parceria e beneficiam-se servindo as firmas extrativas estatais/multinacionais. As multinacionais, tecnocratas, casas de investimento, consultores e banqueiros tornam-se a nova classe dirigente dos RECE.
Os pagamentos de royalties e impostos estão longe do ótimo mesmo que alguns dos contratos passados tenham sido renegociados para aumentar pagamentos para o país “hospedeiro”. “Incentivos invisíveis”, cláusulas de depreciação, pagamentos por transferência, superfaturamento de encargos operacionais, salários exorbitantes, permitem às multinacionais reduzir pagamentos de royalties e impostos sobre lucros, embora nominalmente as taxas tenham aumentado, privando os tesouros locais de receitas.
Lucro é o nome do jogo que torna as commodities primárias um negócio atraente. Multinacionais dedicadas às indústrias extrativas têm conseguido lucros agregados recordes ao longo da década em múltiplos pontos da cadeia produtiva: primeiro na venda de matérias-primas, depois no seu marketing e processamento, bem como na venda inicial de inputs (maquinaria, produtos químicos, etc.). A fatia multinacional do preço final de uma matéria-prima processada excede de longe o retorno para o “país fonte”.
Os lucros são, no melhor dos casos, só parcialmente reinvestidos no sítio da exploração de bens primários. O grosso dos lucros é exportado de volta para a matriz e tomado como salários executivos, bônus, dividendos ou reinvestido em setores diversos, em locais além-mar, com um efeito multiplicador mínimo no país hospedeiro. Uma fração diminuta dos lucros é investida na melhoria da qualificação local, na tecnologia e na diversificação da economia do país exportadores da commodity com acréscimo de valor à matéria-prima.
A percentagem de matérias-primas processadas localmente como bens acabado, com alto conteúdo de valor, é mínima. A maior parte das multinacionais e dos seus parceiros estatais tomam o “caminho fácil” burocrático/rentista da exploração da matéria-prima e, no melhor dos casos, refinação e fundição, acrescentando pouco valor. Em consequência os empregos de alto valor são criado no mercado interno da multinacionais ao passo que o sítio dinâmico da exploração das matérias-primas permanece um enclave privilegiado em meio à pobreza e ao subdesenvolvimento econômico.
A especialização em matérias-primas leva a um padrão de desenvolvimento extremamente desigual entre o enclave e o resto da economia e da sociedade. Isto por sua vez cria uma estrutura de classe geograficamente e socialmente polarizada na qual blocos multiclasses de base regional competem e entram em conflito para a obtenção das riquezas e receitas acumuladas pelo estado. O papel do estado como “mediador” ou redistribuidor entre o enclave rico em recursos e o resto da economia social é comprometido pelos seus laços e contratos com as multinacionais e os interesses de classe e de “carreira” de tecnocratas com uma biografia de ligações com o capital internacional.
Se bem que exportações de produtos primários, especialmente numa era de preços elevados, geralmente crie uma balança de pagamentos favorável, no entanto o fato de que a maior parte dos bens de capital e intermediários e serviços profissionais e de tecnologia serem comprados de fabricantes estrangeiros, banqueiros e consultores resulta na infiltração em grande escala dos rendimentos para além-mar e na reprodução do atraso tecnológico interno.
Os fertilizantes, produtos químicos, maquinaria agrícola, sementes e sistemas de irrigação, treino de agrônomos e especialistas locais produzidos pelos RECE para proporcionar perícia técnica e dirigir programas de extensão criariam uma economia competitiva de classe mundial com capacidade para diminuir a sua dependência de financiamento externo e decisões externas com poder para alterar os sítios de investimento e produção.
Indicadores sociais e capitalismo extrativista
Apesar de a maior parte dos regimes de capital extrativo prestar homenagens verbais a “transferir os rendimentos” para programas sociais, na melhor das hipóteses a maior parte destes regimes só empenha em aumentos incrementais de gastos sociais destinados a “bolsões de pobreza extrema” e subsídios de sobrevivência. Com a exceção da Venezuela, poucos programas abrangentes a longo prazo e em grande escala são concebidos e financiados a fim de proporcionar emprego bem remunerado, cuidados de saúde e educação universais e gratuitos, pensões que cheguem para viver, alimentos a baixo custo e subsídios de habitação. Ao invés disso o gasto social é destinado a criar programas de pobreza clientelistas que servem estreitos interesses eleitorais ao invés de criar uma cidadania saudável, educada e participante.
A imagem de um camponês pobre sentado sobre uma montanha de metais preciosos mantém relevância na maior parte das economias extrativistas.
A prática comum dos regimes extrativistas é concentrar rendimento, receitas, despesas e altos salários nas cidades/capital. Em contraste, as economias e regiões locais da exploração extrativas recebem uma proporção infinitamente pequena de investimentos do estado em infraestruturas sociais e econômicas.
Estradas e transportes são instalados para ligar os sítios de exploração ao seu destino além-mar, na forma dos raios de uma roda. A alternativa de um padrão “grelha” ligaria os sítios de exploração com o mercado interno, cidades e aldeias do interior, assim como a fábricas a produzirem inputs interno e processamento de matérias-primas.
Apesar de o Estado e as multinacionais mencionarem os salários relativamente elevados que se acumulam para assalariados no setor extrativo em comparação com os trabalhadores de fora do enclave, a comparação mais relevante são as relações trabalho/lucro dentro do enclave, a relacão dos rendimentos proporcionais à produtividade e ao valor gerado e a relação de salários, bônus e pagamentos de dividendos à elite, comparados com o rendimento médio dos trabalhadores assalariados.
As disparidades entre salários de administradores e os dos trabalhadores da mineração, agricultura e energia dispararam quando os preços e lucros realizados cresceram durante a última década.
A maior parte dos projetos de grande mineração, agricultura e energia são capital intensivo: altamente mecanizado, com grandes inputs de tecnologia avançada e empregando um pequeno quadro de engenheiros, funcionários, administradores (divididos entre estrangeiros e nacionais) e uma pequena percentagem da força de trabalho.
Cada milhão de dólares investido cria um emprego. A relação capital-trabalho, especialmente após a fase inicial de construção que é mais trabalho intensiva, provoca pouco impacto sobre os desempregados.
A força de trabalho voltada para a economia local de trabalho intensivo, que foi perturbada pelos investimentos extrativos, é marginalizada. Se bem que em termos agregados o capital investido na economia extrativa ultrapasse de longe o capital investido na economia local, os custos para produtores locais tanto em termos da perda de meios de vida como em rendimento e enfermidades é substancial e provavelmente conduz a um resultado líquido negativo. Por outras palavras, do ponto de vista de uma análise custo-benefício, as multinacionais e o Estado podem acumular ganhos substancias ao passo que os produtores locais sofrem uma perda líquida em termos materiais e pessoais: ruptura de laços comunitários e relações recíprocas, assim como perturbações familiares.
As mulheres são visivelmente as grandes perdedoras “invisíveis” resultantes das perturbações na economia local provocados pelo capital extrativo em grande escala. As mulheres desempenham um papel importante na agricultura familiar, artesanatos locais, têxteis, cerâmicas, tecelagem e produção leiteira bem como no marketing e comércio ligado à pequena produção de mercadorias.
Quando o capital extrativo através de contratos multinacionais/Estado desloca ou mina a economia local (via contaminação) ele, quase exclusivamente, contrata trabalhadores homens, confinando mulheres a um papel marginal, forçando as jovens a migrarem, procurarem trabalho em serviços pessoais ou ocupações semi-lícitas ou ilícitas (prostituição, garçonetes). Além disso os “efeitos colaterais” muito exigentes quanto ao tempo e energia das mulheres para tratar as doenças propagadas pelo uso de produtos químicos.
Uma multidão de contaminantes tem um grande impacto sobre crianças, mulheres grávidas, idosos e empregados direta e indiretamente envolvidos em ocupações extrativas de alto risco – a “enfermagem” familiar é esmagadoramente uma obrigação não paga das mulheres. Um avanço do capital extrativo significa, para as mulheres, perda de rendimento, status, vida social (marketing) e maior subordinação dentro da família.
Os investimentos em mineração e energia trazem capital para uma região, mas também acrescentam custos sociais. Para cada dólar investido, a economia regional é sobrecarregada com o custo de lidar com o influxo de criminosos, prostitutas, alcoolismo, uso de drogas, jogo, doenças venéreas, crime e outros “custos gerais” anti-sociais.
Enquanto os lucros são privatizados, os custos das consequências sociais sobrecarregam a comunidade, o governo e a economia locais.
A indústria extrativa é caracterizada por uma estrutura de classe de múltiplas camadas, altamente desigual e polarizada:
  1. No topo estão as multinacionais e seus parceiros nacionais – os 1% de multimilionários - que ganham um múltiplo de todo o resto da força de trabalho.
  1. O nível a seguir é a administração sênior superior; uma mistura de diretores estrangeiros e locais, recrutados fora da região e que interagem com os circuitos internacionais.
  1. Abaixo deles estão os engenheiros e a administração média que operam os processos de produção diários e supervisionam as relações de trabalho – estes podem incluir também um “local” que tenha alguma experiência como antigo advogado trabalhista ou sindicalista.
  1. A seguir na hierarquia estão os trabalhadores de escritório, os quais incluem empregados regionais e transferidos de cidades. Conforme o grau de mecanização eles variam em número, até um terço da força de trabalho, com pagamentos, escala de benefícios e organizações sociais específicos que os diferenciam dos trabalhadores manuais.
  1. O extrato seguinte são os trabalhadores “estáveis” ou “permanentes” (uma categoria relativa) com contratos a longo prazo e benefícios que incluem habitação e outros subsídios. Eles constituem até a metade da força de trabalho manual.
  1. Abaixo deles estão os trabalhadores temporários com o pagamento mais baixo, maior insegurança de emprego, com poucos, se é que algum, benefícios e colocados no trabalho mais arriscado e insalubre.
  1. Além deles há os trabalhadores temporários “migratórios” que são contratados para projetos específicos como construção de estradas, reparações e outros projetos de curto prazo.
  1. Por último há um exército de reserva de “migrantes” desempregados que proporcionam “serviços” de duvidoso valor social e produtivo e poderiam servir como fura-greves.
A segmentação do trabalho é uma estratégia dos empregadores para diminuir o poder coletivo do trabalhador e fortalecer o poder de negociação do capital.
A fragmentação e a competição contrapõe trabalhadores uns contra outros.
O capital extrativo dissolve solidariedade e esforços na cooperação envolvendo todos os membros de uma comunidade. Na melhor das hipóteses, a solidariedade e unidade depende da capacidade de trabalhadores manuais sindicalizados forjarem ligações com as classes contíguas, assim como produtores e retalhistas de pequena escala.
O ponto é que o capital extrativo cria poucos empregos qualificados estáveis com rendimento decente e um grande número de empregos auxiliares sem benefícios definidos e poucas perspectivas futuras, especialmente para aqueles empregados em ocupações de alto risco e sujeitas a doenças.
A expectativa de vida em muitas ocupações extrativas é limitada. Isto significa que os ganhos no tempo de vida dos trabalhadores podem acabar por ser menores do que seriam para trabalhadores voltados para uma atividade mais saudável baseada na família. O mesmo poderia ser dito para a segurança da família: enquanto trabalhadores empregados na atividade extrativa compram aparelho eletrônicos e domésticos, as doença profissionais podem levam ao afastamento prematuro, privação e rendimento mais baixo ao longo do tempo de vida (a longo prazo).
Indicadores ambientais
O capitalismo extrativista é provavelmente o maior poluidor do planeta e os trabalhadores mineiros e comunidades adjacentes às minas são os mais gravemente afetados.
Testemunhos e estudos de ecologistas a trabalharem comunidades indígenas no Equador, Peru e Bolívia documentaram doenças generalizadas devido a fugas de petróleo, aquíferos e ribeirões contaminados e em terras agrícolas vizinhas e entre residentes, especialmente crianças. Se bem que a indústria extrativa tenha aumentado os recursos do estado, os custos em termos de recursos naturais destruídos devido à poluição, infraestrutura de desenvolvimento e dano colateral para vida comunitária pesa muito na balança. Isto é especialmente verdadeiro se consultarmos taxas de mortalidade e o declínio na qualidade de vida de trabalhadores e residentes afligidos com doenças induzidas pelo capital extrativo.
O âmbito e profundidade da contaminação e os custos econômicos na maior parte dos casos provoca um empobrecimento das comunidades locais que vai muito além de qualquer ganho monetário acumulado devido aos salários de uma força de trabalho reduzida.
A mentalidade dos capitalistas extrativos, voltada unicamente para a exploração de matérias-primas, leva-os a tratar com arrogância a atividade econômica pré existente.
A agricultura local, o cultivo de víveres básicos e criação de gado, são devastados quando os produtores locais são deslocados, a água para irrigação é desviada para as minas e plantações, e as estradas e mercados são congestionados pelo transporte pesado.
Os venenos químicos minam a saúde de produtores locais. A irrupção do capitalismo extrativista é combinada com a ruptura da produção local, com graves deslocações sociais e um aumento na marginalidade social. Quando as minas crescem em dimensão e receitas, a economia familiar declina.
Afirmações de advogados do capital extrativo de que a força de trabalho deslocada da produção familiar será reabsorvida em novos empregos criados pelo setor da mineração constituem a exceção e não a regra.
O trabalho agrícola intensivo, o artesanato e a criação de gado empregam muito mais trabalhadores, de ambos os gêneros, do que o capital intensivo do sector mineiro. Além disso, o complexo acidentes-doenças que acompanha a mineração cria um ciclo de trabalho mais curto, trabalhadores postos de lado tornam-se um fardo em famílias com rendimento em contração e recursos em declínio.
O resultado líquido é que o capital extrativo beneficia da maior parte do tempo produtivo do ciclo de vida e à comunidade/família é imposto o custo da manutenção do trabalho na sua fase menos produtiva.
Indicadores políticos
As decisões referentes à entrada, localização, condições de operação, impacto ambiental do capital extrativo são tomadas através de acordos entre uma pequena elite de executivos na capital do país e os administradores principais da multinacional.
Um exame das estruturas de tomada de decisão revela a exclusão daquelas comunidade, cidadãos locais e líderes mais afetados.
A iniciativa de investir é habitualmente influenciada por uma combinação de incentivos e concessões da elite – às custas do tesouro local – e concessões de terra em termos favoráveis à multinacional. Pouco cuidado é tomado com impactos locais sobre condições de vida, saúde e sistemas produtivas pré existentes. A estrutura da tomada de decisão é centrada na elite, urbana e corporativa; os estudos de impacto ambiental são executados por “consultores” patrocinados pela elite que invariavelmente aprovam projetos lucrativos.
A participação cidadã inicialmente é mínima, especialmente em relação ao âmbito, concepção e operações de projetos extrativos. Contudo, quando o projeto avança para o status operacional, cidadãos, comunidades e setores vastos da sociedade civil são mobilizados a vários níveis.
A influência negativa sobre a economia existente, o impacto danoso sobre o ambiente, a distribuição de rendimentos desigual, os baixos níveis de emprego local, a pequena contribuição para o bem estar da comunidade e outras questões relacionadas levantam a ira da comunidade local e frequentemente levam a protestos em massa.
O padrão típico é aquele em que as elites decidem e as comunidades locais respondem.
Confrontado com oposição tenaz o regime responde com violência – repressão do estado – apoiando o poder, privilégios e prerrogativas dos capitalistas extrativos. Em segundo lugar, confrontado com a oposição generalizada, o regime e a multinacional tentam negociar e cooptar líderes locais, fazendo concessões limitadas respeitantes a projetos sociais locais, mas nunca abrindo mão do acordo básico da elite ou da estrutura de tomada de decisão. São escolhidos “grupos consultivos” simbólicos mas sem qualquer poder para rever ou controlar o processo de extração.
A estrutura de tomada de decisão que acompanha a entrada do capital extrativo e os termos de exploração é altamente centralizada e autoritária. Em contraste, a oposição local a escala de participação dos cidadãos locais é elevada, assumindo a forma de assembleias, debates, formulações de políticas e ação social tendo em vista a resolução por negociações.
Eleições e debates dão pouca ou nenhuma atenção à entrada do capital extrativo. Tecnocratas, banqueiros e investidores não eleitos desempenham o papel dominante fora do domínio público sem qualquer supervisão democrática. Em contraste a oposição comunitária é conduzida por líderes eleitos, com um mandato (revogável) de uma assembleia geral e responsáveis perante uma reunião de eleitores.
Os decisores da elite estão preocupados exclusivamente com decisões a curto prazo referentes aos mais baixos custos para explorar, extrair e transportar recursos primários.
Eles deixam para a comunidade local o enfrentar dos desastres a longo prazo que habitualmente se abatem em consequência da erosão: deslizamento de terras, colapsos de montanhas de escórias, inundação subterrânea e outras adversidades a “longo prazo”. Em contraste, as comunidades locais estão preocupadas com efeitos a longo prazo e decisões estratégicas que terão impacto sobre a sobrevivência a longo prazo e a prosperidade local.
Há um conflito básico de interesses entranhado no relacionamento entre o capital extrativo e seus patrocinadores no estado central e comunidades locais, sociedade civil e movimentos indígenas.
Conclusão
O capital extrativo na sua estrutura atual e realmente existente, nas suas operações em impacto tem um efeito agudamente polarizador, quando medido por indicadores econômicos, sociais, ambientais e políticos precisos.
A chave é a desigualdade: a distribuição desigual de benefícios e custos, a distribuição desigual de poder político e os custos desiguais da poluição ambiental.
A desigualdade deriva da concentração do poder econômico nas estruturas internacionais hierárquicas do capital, reforçadas e ampliadas pelo executivo político local (o regime) que impõe por decreto os termos pelos quais o capital extrativo explora recursos naturais.
As comunidades locais e o trabalho enfrentam o maior custo em termos das consequências adversas de uma economia baseada nos recursos naturais, que acumula a menor fração dos lucros e rendimentos e as maiores perdas em termos de saúde, cidadania e cultura cívica.
As fortunas contrastantes entre o capital e o trabalho são mais agudas nas “cidades da companhia” onde o “controle total” virtual pela multinacional e o estado força comunidades a mobilizações em grande escala para corrigir um mínimo de injustiças diárias.
Enquanto o local da exploração provoca conflito, a resolução do mesmo depende em grande parte da capacidade de cada lado de mobilizar apoio político mais vasto nacional e internacional.
As multinacionais mobilizam suas ligações junto aos setores “financial-import-export”, a comunidade local mobilizar as capitais provinciais e aldeia e os partidos urbanos de esquerda, sindicatos e, conforme o caso, em ONG ecológicas.
A resolução do conflito depende da força das partes contendoras. O resultado tem consequências vitais não só para aquelas comunidades diretamente afetadas, mas sobre toda a estrutura da economia e da estrutura de classe.
O capital extrativo no comando tende a polarizar a sociedade em dois; cria uma economia “mono-cultural” vulnerável a ciclo (mega ou não); reduz a participação cidadã; acentua fluxos especulativos de capital para e a partir de commodities exploradas.
O artigo original, em inglês, encontra-se em: “The Rise and Demise of Extractive Capitalism
Esta tradução foi extraída de: Resistir  

Nenhum comentário:

Postar um comentário