Após quinze
meses de debate, o Tribunal Oral Federal 6 da Argentina condenou o
ditador Jorge Rafael Videla por “subtração, retenção e ocultamento” em
vinte casos de filhas e filhos de desaparecidos durante a última
ditadura cívico-militar. Além disso, o tribunal definiu o roubo de
crianças como um plano sistemático, produto de uma prática organizada
desde a cúpula do poder militar. As Avós da Praça de Maio e as famílias
seguem buscando os netos que ainda não recuperaram suas identidades.
Página/12
Buenos Aires -
Após quinze meses de debate, o Tribunal Oral Federal 6, integrado pelos
juízes María del Carmen Roqueta, Julio Luis Penala e Domingo Altieri,
condenou os ditadores Jorge Rafael Videla e Reynaldo Benito Bignone por
“subtração, retenção e ocultamento” de filhas e filhos de
desaparecidos durante a última ditadura cívico-militar, em 20 e 31
casos, respectivamente. O tribunal também condenou a 30 e 40 anos de
"prisão e inabilitação absoluta" pelo mesmo prazo da condenação os
repressores Antonio Vañek e Jorge "El Tigre" Acosta. Além disso, o
tribunal definiu o roubo de crianças como um plano sistemático, produto
de uma prática organizada desde a cúpula do poder militar.
Durante os quinze anos de investigação judicial que precederam o
julgamento, foram obtidos muitos testemunhos, mas um dos mais
reveladores foi o da neta Victoria Montenegro, que denunciou a
cumplicidade do promotor Juan Martín Romero com seu apropriador, o
ex-coronel Herman Tetzlaff e sua esposa María del Carmen Duartes.
Antes da sentença, Montenegro, que se reencontrou com sua família em
2001, assegurou que “chamar as coisas pelo seu nome vai fazer bem para
todos”, referindo-se à expectativa de que o tribunal definisse como
“plano sistemático” o roubo de bebês. “Este julgamento fecha muitos anos
de luta sustentada pelas Avós da Praça de Maio”, sustentou.
Para a jovem, que este ano também recuperou os restos de seu pai,
graças ao trabalho da Equipe Argentina de Antropologia Forense, o
significado de alcançar justiça “serve para reparar feridas, ainda que
saibamos que falta muito a fazer, sabemos que faz parte da batalha
cultural que estamos travando”.
Entre as 35 apropriações há nomes de pessoas que nasceram em cativeiro e
uma pequena proporção de apropriados ou dados em adoção logo depois de
serem sequestrados com seus pais. Das 35 crianças, 26 recuperaram a
identidade. Destes, 20 testemunharam no julgamento.
As avós e famílias seguem buscando os que faltam. Seus nomes ontem
estavam registrados em um panfleto distribuído pelas Avós da Praça de
Maio no julgamento: são Guido Carlotto, Ana Libertad Baratti de la
Quadra, Clara Anahí Mariani Teruggi; o/a filho/a de Gabriela
Carriquiriborde e Jorge Repetur; Martín Ogando Montesano: Victoria
Petrakos Castellini; a filha de María Moyano e Carlos Poblete e a filha
de Ana Rubén e Hugo Castro que “continuam vivendo com uma identidade
falsa”.
Tradução: Katarina Peixoto
Carta Maior
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