sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Decisão da ONU ocorre 65 anos após resolução que dividiu a Palestina 30/11/2012

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IAN BLACK
DO "GUARDIAN"
O dia 29 de novembro, quando a Assembleia Geral da ONU vota a elevação de status do Estado da Palestina, é uma das datas mais importantes nos anais do conflito árabe-israelense.
Nenhum dos envolvidos nos esforços diplomáticos frenéticos que cercam a decisão a ser tomada nesta quinta ignora que foi em 29 de novembro de 1947 que a organização mundial, então em seus primórdios, votou pela partilha da Terra Santa entre um Estado judaico e outro árabe.
O timing da votação foi escolhido propositalmente pelo presidente da ANP, Mahmoud Abbas, em função desse eco.
Em 1947, na sede temporária da ONU (Organização das Nações Unidas) em Nova York, foi realizada a votação que faz jus ao adjetivo "histórico". Um trabalho intenso de lobby por parte do movimento sionista e dos EUA persuadiu países indecisos como o Haiti e o Paraguai a compor a maioria de 33 Estados, os dois terços necessários. Sobravam pressões e propaganda política.
Treze membros, incluindo Estados árabes e muçulmanos, foram contra a partilha. Entre os dez países que se abstiveram estava o Reino Unido, que tinha acabado de tomar a decisão de encerrar seu mandato de 30 anos na Palestina. Curiosamente, e por razões distintas, é possível que o Reino Unido se abstenha outra vez. Se o fizer, provocará ultraje entre parlamentares e grupos de defesa dos direitos humanos.
Em 1947, o apoio à causa sionista foi movido por uma combinação de remorso ocidental pelos 6 milhões de mortos no Holocausto nazista e por cálculos estratégicos precoces da União Soviética no quadro da Guerra Fria. O lado árabe estava desorganizado e dividido.
O júbilo nas áreas judaicas da Palestina --o escritor Amos Oz faz uma descrição fascinante em seu livro de memórias-- foi acompanhado por consternação e revolta no lado árabe. A Liga Árabe avisou que as consequências seriam terríveis.
Sessenta e cinco anos atrás, as consequências da votação eram incertas. Ela foi seguida imediatamente pelo início da primeira etapa da guerra que, em 1948, garantiu a independência de Israel e causou a "Nakba" palestina --a "catástrofe"--, cuja consequências humanas e políticas persistem até hoje, com meia dúzia de outras guerras.
Mas o resultado da votação desta quinta-feira na ONU não está em dúvida: 132 dos 193 Estados membros da ONU já reconheceram um Estado palestino suposto. Os EUA são contra. Resta a ser decidido o que fará o Reino Unido, membro permanente do Conselho de Segurança. A França já prometeu votar "sim", e a Alemanha, "não", dividindo o voto da União Europeia. Rússia e China estão do lado do "sim".
Há princípios de importância maior em jogo aqui. Hoje em dia a causa da justiça para os palestinos goza de apoio internacional muito amplo. Os combates recentes na faixa de Gaza lembraram de modo doloroso os riscos enormes encerrados no impasse. Mas há considerações pragmáticas que também estão sendo levadas em conta.
O Reino Unido votará a favor apenas se os palestinos se abstiverem de candidatar-se a membros do Tribunal Penal Internacional, algo que Israel teme que levasse a acusações de crimes de guerra. O ministro do Exterior britânico, William Hague, disse a parlamentares na quarta-feira que, embora o Reino Unido apoie o TPI, o risco maior estava impossibilitando negociações futuras com vistas à criação do Estado palestino. O grupo de campanhas online Avaaz qualificou a posição britânica de repulsiva.
EUA e Israel avisam que a inclusão da Palestina como membro da ONU vai prejulgar o resultado de negociações de paz futuras e já deram a entender que pode haver uma retaliação. Mas não há negociações substantivas há anos, em parte porque Israel se recusou a deixar de ampliar os assentamentos na Cisjordânia e em Jerusalém oriental --e os EUA não pressionaram Israel a parar. Mesmo assim, Abbas já deixou claro que está disposto a reiniciar negociações assim que passar a votação na ONU.
Abbas parece extremamente fraco comparado com seus rivais do Hamas, triunfantes após oito dias disparando foguetes da Faixa de Gaza para o coração de Israel. Os governos ocidentais compreendem que Abbas precisa urgentemente do apoio deles.
O status de Estado observador na ONU com certeza teria significado simbólico profundo. "O apelo palestino à ONU visa nos converter em Estado não membro, com isso elevando nosso status de 'território disputado' --que é como somos amplamente vistos por Israel-- para o de Estado ocupado", Abbas já disse. Seria muito mais importante do que a declaração unilateral de independência feita por Iasser Arafat em 1988. Por essa razão, esta votação sobre a Palestina será observada com muita atenção.
Mas a grande pergunta que fica é se este 29 de novembro fará alguma coisa para ajudar a resolver o conflito --e se esta data merecerá ficar na história outra vez.

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