quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Representante do Fatah pede solidariedade internacional contra agressões à Palestina 29/11/2012


Nabil Shaat apoia a progressão para um estado que integre todas as religiões na região | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Júlia Schwarz
Na tarde desta quinta-feira (29) o Fórum Social Mundial Palestina Livre recebeu para a palestra “As esquerdas palestina e latino-americana: diálogos sobre a paz, soberania e descolonização” o comissário para relações internacionais do Fatah, Nabil Shaat. Além do representante do partido palestino, estavam presentes na mesa Valter Pomar, secretário executivo do Foro de São Paulo e membro do PT, o secretário de relações internacionais do PCdoB, Ricardo Abreu e a diretora da Fundação Perseu Abramo, Iole Ilíada Lopes.
Pomar iniciou sua fala explanando as diferentes posições dos partidos de esquerda sul-americanos com relação ao estado de Israel. Ele admite que há alguns deles contrários a existência do estado judeu. “O que todos têm em comum é a crítica e a denúncia à conduta do país. Por suas infrações aos tratados internacionais, pelos assentamentos que ocupam indevidamente as regiões mais férteis da palestina, pelo muro de Israel”, apontou.
A partir desse ponto, passou a tratar do terrorismo de estado praticado contra os palestinos e frisou a importância de “diferenciar a violência vinda do opressor daquela causada pelo oprimido”. O mesmo discurso foi repetido por Shaat, que comparou as acusações vindas de Israel de que a Palestina teria sido responsável pelo início do conflito fazendo uma analogia ao estupro. “É como se o estuprador tentasse acusar a mulher por ele violentada de haver ofendido sua mãe durante o ato”, afirmou.
Para embasar seus posicionamentos com relação à discrepância entre as forças palestinas e israelenses, tanto Pomar, quanto Shaat focam na inexistência de um exército palestino ante o exército “nuclearizado e com o apoio da maior potência militar do mundo”, os Estados Unidos. Refutando veementemente a tese de que o apoio estadunidense ao estado judeu se dá principalmente devido à pressão semita, optando pela tese que considera como maiores fatores para a proximidade entre os dois estados seus interesses pelas riquezas do Oriente Médio, em especial o “sangue negro”: petróleo.
Apesar de considerar que o país governado por Barack Obama seja “mais comprometido com Israel do que com qualquer outro, inclusive a Inglaterra”, Shaat percebe fraquezas nessa ligação e afirma que ela já estremeceu. “Quando eles derrubaram Saddam Hussein do poder, pensaram que talvez não precisassem mais de Israel”. Para voltar a recuperar seu posto de aliado de primeira linha, avalia o membro do Fatah, Israel teria proposto novos serviços de testes militares aos Estados Unidos.
Questionado por Pomar quanto à possibilidade de buscar a paz através da criação de um estado secular na região que englobasse os territórios de Israel e da Palestina, Shaat respondeu que a unificação em um único Estado progressista, que concedesse iguais direitos à judeus, muçulmanos e cristãos, já foi proposta pelo Fatah no final da década de 1970. Relembra a convivência de judeus e palestinos em territórios antes pertencentes à Palestina, hoje invadidos por Israel, para apontar como sendo judia a falta de vontade para a criação de um estado único e laico. “Nos expulsaram de nossas terras para criar um estado exclusivamente judeu”, resume.
No dia em que os membros do conselho da ONU elevaram o status da Palestina de “observadora” para “estado não-membro observador” – pela chamativa maioria de 138 votos a favor, 9 contra e 41 abstenções – o comissário para relações internacionais do Fatah relembra da pressão contrária liderada por Obama. O presidente estadunidense teria advertido o palestino, Mahmoud Abbas, contra sua postulação para a modificação de seu status junto ao organismo internacional. “Hoje buscamos na Europa o apoio dos governos e aqui, no Brasil, a solidariedade das populações”, concluiu Shaat.
Embora tenham surgido ao longo das falas de palestrantes e nos questionamentos da plateia, não foram debatidas ações concretas através das quais as populações e mesmo as esquerdas podem ser solidárias com a Palestina. Além da promoção de debates, como o próprio FSM Palestina Livre, foram apresentadas sugestões como pressão popular sobre os governos para que tomem posições favoráveis à causa e a criação de um movimento internacional de apoio. Apesar desta última ideia não ter sido desenvolvida, Shaat confirmou, ao ser questionado, que havia sugerido o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva como um líder em potencial para o movimento. “Ele poderia assumir outros papeis, sei que ele não está muito bem de saúde, mas é o tipo de pessoa que eu gostaria que assumisse essa liderança”, respondeu.

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