Reuters
Por Marianna Párraga e Mario Naranjo
CARACAS, 9 Dez (Reuters) - O presidente venezuelano, Hugo Chávez, voltará neste domingo a Cuba para uma nova cirurgia após a reincidência do câncer, que o levou a nomear um sucessor ao reconhecer pela primeira vez que a doença poderia pôr fim a seu governo.
Desde o início deste domingo, seguidores do mandatário se organizavam para marchar em seu apoio nas principais cidades da Venezuela, um país chocado com a volta do câncer apenas dois meses depois de que Chávez venceu as eleições presidenciais e antes de assumir o novo mandato, com o qual estenderá seu governo a quase 20 anos.
Em uma mensagem em rede nacional de televisão, Chávez instou no sábado os venezuelanos a eleger o vice-presidente Nicolás Maduro caso ele não consiga continuar no comando do país e se novas eleições forem convocadas, a primeira vez em que admitiu que poderia não continuar no poder.
"É necessário submeter-me a uma nova intervenção nos próximos dias", acrescentou Chávez, que pediu permissão formal à Assembleia Legislativa para se ausentar do país a partir deste domingo.
"Com o favor de Deus, como nas ocasiões anteriores, sairemos vitoriosos, iremos para frente, tenho plena fé nisso", acrescentou Chávez, beijando um crucifixo que carrega como amuleto e que também beijou logo depois de um golpe de Estado contra ele em abril de 2002.
Contudo, o possível fim do governo Chávez abriria uma transição que, em um país tão centralizado e dependente de uma pessoa só como a Venezuela, poderia acender a chama da instabilidade política.
Os aliados de Chávez não têm seu carisma e fortaleza política, que fizeram dele um dos mais reconhecidos líderes mundiais e maiores críticos dos Estados Unidos.
Entre eles, Maduro, de 50 anos, é visto com bons olhos pelos chavistas por seu passado humilde de motorista de ônibus e suas formas afáveis de comunicar suas ideias. E, com a permissão de Chávez, o caminho poderia ser menos complicado ao também chanceler.
Maduro representa o sonho socialista de que um trabalhador chegue ao poder. Apenas com o título de bacharelado, começou a dirigir os ônibus dos sistema de metrô de Caracas, foi sindicalista, militante e, por último, político de primeira linha na nação caribenha.
Chávez não apareceu em público por três semanas até que na sexta-feira voltou de surpresa a Caracas proveniente de Cuba, onde fazia um novo tratamento médico.
No sábado, o presidente lembrou que foi submetido a exames na ilha que detectaram a reincidência da doença da qual ele havia se declarado curado antes das eleições de 7 de outubro, quando conquistou um novo mandato de seis anos até 2019.
O eventual fim do governo Chávez também poderia implicar o término de uma era latino-americana de governos esquerdistas que dependem da enorme receita petrolífera venezuelana, como Cuba, Nicarágua, Bolívia e Equador.
MAIS ESPECULAÇÃO
Chávez revelou que ignorou a recomendação de sua equipe médica de ser operado "o mais tardar" na sexta-feira porque precisava dizer a seus compatriotas, na Venezuela, sobre sua situação.
"Decidi vir, fazendo um esforço adicional, de verdade, porque as dores são de alguma importância", confessou.
A volta do presidente a Cuba iniciará outra onda de rumores sobre as mudanças políticas na Venezuela e silêncio por parte dos porta-vozes oficiais. Até o momento, não foi revelado o tipo de câncer de Chávez, apenas que está localizado na região pélvica.
O líder socialista recebeu tratamento médico em Havana, onde é beneficiado pelo hermetismo proporcionado por seus aliados Raúl e Fidel Castro.
Segundo a Constituição, a Venezuela tem de convocar novas eleições em 30 dias caso Chávez não consiga assumir seu novo mandato, que começa em 10 de janeiro de 2013, ou se for obrigado a deixar a presidência nos primeiros quatro anos de seu novo governo.
Neste novo cenário, sem o enorme carisma de Chávez para conquistar votos, apesar dos problemas que afetam os venezuelanos, a oposição tem melhor posição, apoiada nos 6,5 milhões de votos obtidos nas últimas eleições pelo atual governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles.
As últimas pesquisas disponíveis mostram que Capriles é mais popular que qualquer sucessor de Chávez e venceria em um eventual novo pleito presidencial.
Contudo, a unidade da oposição, por momentos, parece construída unicamente em torno de Chávez, e sem o líder esquerdista alguns opositores poderiam não ver a necessidade de se manter juntos e lançar suas próprias candidaturas.
No oficialismo, o panorama é igualmente complexo. Durante as ausências anteriores de Chávez, quando esteve se tratando em Cuba, surgiram rumores sobre fraturas dentro do chavismo. Tanto é que no sábado o próprio Chávez pediu "unidade, unidade, unidade."
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