Do Estadão
Prêmio Nobel reconhece Europa como 'continente da paz'
LUKE BAKER E BALAZS KORANYI - Reuters
A União Europeia recebeu o Prêmio Nobel da Paz nesta segunda-feira,
homenageada pelo comitê norueguês que olhou além do mal-estar econômico
atual da Europa e reconheceu as décadas de estabilidade e democracia
após os horrores de duas guerras mundiais.
Apropriadamente para uma instituição sem um líder único, a UE enviou
três de seus presidentes à cerimônia em Oslo para a entrega da premiação
de 2012, que alguns críticos, incluindo o ex-prêmio Nobel Desmond Tutu,
disseram não ser merecido.
"Sessenta anos de paz. É a primeira vez que isso aconteceu na longa
história da Europa", disse Herman Van Rompuy, presidente do Conselho
Europeu, à Reuters antes da cerimônia.
"Os fatos provam que a União Europeia é um instrumento de paz de
primeira ordem", afirmou Van Rompuy, que recebeu o prêmio juntamente com
o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, e Martin
Schulz, presidente do Parlamento Europeu.
A Europa está passando por momento de fraco crescimento econômico ou
recessão pura e simples, desemprego em alta e alguns de seus
Estados-membros são incapazes de pagar suas dívidas. Essa tem sido
chamada de a pior crise econômica desde a 2a Guerra Mundial.
A crise econômica provocou agitação social em vários países-membros,
com destaque para a quase falência da Grécia. Entretanto, o comitê do
Nobel se concentrou no papel da UE em reconciliar os diferentes cantos
do "velho continente" -- tendo como maior sucesso transformar Alemanha e
França de inimigos em aliados.
A partir de apenas seis países que concordaram em juntar suas
produções de carvão e aço nos anos 1950 para 27 Estados-membros --e 28
assim que a Croácia se juntar no próximo ano--, a UE agora se estende de
Portugal até Romênia, Finlândia e Malta e define regras e regulamentos
para mais de 500 milhões de pessoas.
"O papel de estabilização desempenhado pela UE tem ajudado a
transformar a maior parte da Europa de um continente de guerra para um
continente de paz", disse o comitê do Nobel em 12 de outubro, quando
anunciou que a UE tinha sido escolhida vencedora deste ano, uma decisão
inesperada.
"A divisão entre o Oriente e o Ocidente, em grande medida, chegou a
um fim, a democracia tem sido reforçada, muitos conflitos nacionais de
base étnica foram resolvidos."
Barroso, ex-primeiro-ministro de Portugal que fez parte da luta para
transformar seu país em uma democracia em 1974, ecoou esses sentimentos.
"É um reconhecimento do que foi conseguido ao longo de 60 anos e, ao
mesmo tempo, é também um estímulo para o futuro", disse ele à Reuters.
Apesar das palavras calorosas de unidade e sentido de propósito
comum, a UE e suas principais instituições ficaram em desacordo após o
anúncio porque não conseguiam decidir quem deveria receber o prêmio ou
quem, especificamente, deveria ser homenageado.
No final, foi decidido que o prêmio ia para todos os europeus, a ser
recebido pelos chefes das três principais instituições da UE. Vinte
líderes da UE também decidiram participar da cerimônia, mas o
primeiro-ministro britânico, David Cameron, cuja relação com Bruxelas é
tensa, ficou de fora.
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