Do Le Monde Diplomatique
por Raphael Kempf
Além do desejo dos manifestantes, podemos realmente reunir todas as
manifestações de “indignados” em uma mesma categoria? De Cairo a Atenas,
de Santiago do Chile a São Francisco, estaremos assistindo ao
surgimento de um “povo mundial em luta”?
"Minha tenda está por ali, ao lado da do serviço técnico, onde cuidam
da internet, das ligações com as outras ocupações, das atualizações no
Facebook. Aqui está a cozinha, que serve café da manhã, almoço e jantar.
E aqui é a tenda ‘chá e empatia’, com um piano, chá e café gratuitos!”
Em Londres, diante da Catedral de Saint-Paul, no coração da cidade,
dezenas de tendas floresceram desde 15 de outubro de 20111 e Amir Imran
nos apresenta tudo como se fosse o dono do local.
Imran dorme aqui desde o começo e só deixa o acampamento dois dias
por semana para assistir às suas aulas. Com 24 anos, ele chegou à
capital britânica alguns meses antes para terminar seus estudos de
jornalismo. Ele vem da Malásia, onde “há uma lei draconiana que autoriza
prender qualquer um que seja suspeito de perturbar a harmonia e a ordem
pública. Lá eu participava de movimentos pelo direito à liberdade de
manifestação. Era necessária uma autorização para protestar. Aqui é mais
simples, não?”. Foi natural para ele se unir aos militantes do Occupy
the London Stock Exchange (Ocupar a Bolsa de Londres).
Lançado em Nova York, em 17 de setembro de 2011, o movimento Occupy
(Ocupar) pretende se inscrever na linha dos “indignados” espanhóis e
faria eco, à sua maneira, à Primavera Árabe. Se as situações diferem, se
as reivindicações são às vezes nebulosas, de Londres a Nova York, de
Madri a Tel-Aviv, encontramos o mesmo desconforto diante de uma ordem
política que escapa ao controle dos cidadãos e de uma oligarquia que
monopoliza as riquezas. E também há esse sentimento performático de
pertencer a alguma coisa global. Mas, além do desejo dos manifestantes,
podemos realmente reunir todas essas manifestações em uma mesma
categoria? De Cairo a Atenas, de Santiago do Chile a São Francisco,
estaremos assistindo ao surgimento de um “povo mundial em luta”?2
A questão é colocada para dois estudantes chilenos que, desde maio de
2011, participam do movimento por uma educação pública e gratuita,
nesse país onde as universidades foram, em 1981, privatizadas pelo
regime do general Pinochet.3 O Chile conheceu, durante 2011, as maiores
manifestações populares desde o retorno da democracia. Os estudantes
levaram consigo famílias e colegiais. Questionaram as desigualdades e a
reforma tributária, mas também a representatividade do sistema político.
Eles não se consideram ligados aos “indignados” nem à Primavera Árabe:
construíram suas reivindicações com relação à situação de seu país, mas
dizem expressar uma cólera que ultrapassa as fronteiras do Chile.
Para Andrés Muñoz Cárcamo, “é um fenômeno global contra a maneira
como o sistema econômico produz lucro e destrói as estruturas sociais.
No Chile, é com a educação; em outros lugares, é diferente”. Tomando o
cuidado de salientar as diferenças entre todos esses movimentos, seu
camarada Vicente Saiz reconhece a existência de uma “base comum” no fato
de que “as pessoas lutam para tomar elas mesmas as decisões”. E é
verdade que encontramos em todos os lugares essa vontade de recuperar um
poder confiscado, o desejo de participar realmente da vida pública e da
maneira como as sociedades são governadas.
Em Madri, a grande concentração que encheu a Puerta del Sol no dia 15
de maio de 2011 – e deu nascimento ao movimento 15-M – surpreendeu até
mesmo os organizadores da manifestação, como Carlos Paredes. O movimento
“Democracia real já!”, do qual ele é um dos porta-vozes, tinha sido
criado alguns meses antes em torno de oito propostas que iam da
supressão dos privilégios da classe política até a aplicação efetiva do
direito à habitação e a reforma da lei eleitoral.4
Para Paredes, um empreendedor de 32 anos que exerce sua atividade nos
serviços de informática, a motivação de ir para a rua é ao mesmo tempo
mais profunda e menos precisa do que essas poucas propostas. Há na
Espanha, ele explica, “um teto de vidro” que limita a realização pessoal
e profissional da população. “Os que estão no alto ficam no alto, e os
que estão embaixo caem cada vez mais. A impossibilidade de progredir
econômica e socialmente me levou a procurar outras vias. Aí encontrei
‘Democracia real já!’” Ele não se diz de nenhum partido ou sindicato,
não se refere a nenhuma ideologia política. Mas critica o sistema
econômico cada vez mais desigual e uma democracia que não representaria
mais ninguém, nem na Espanha nem na Europa. E fustiga os “golpes de
Estado financeiros” que foram dados por três personalidades não eleitas e
vindas do mundo das finanças para cargos importantes: Mario Draghi na
chefia do Banco Central Europeu, Lucas Papademos na do governo grego e
Mario Monti na presidência do conselho italiano.
Essa crise da representatividade impulsiona o surgimento de
mecanismos de decisões por consenso. Foi por se sentirem excluídos da
política que os “indignados” elaboraram as técnicas deliberativas mais
inclusivas possíveis. A ocupação durou mais de um mês, pontuada por
assembleias gerais, discussões e grupos de trabalho sobre diversos
temas. Todas as pessoas – em Madri e em outros movimentos Ocupar – nos
contaram com emoção sobre essas assembleias de milhares de pessoas. O
filósofo José Luis Moreno Pestaña fala de um “prazer na discussão
pública”.5
Ivan Ayala tem 31 anos. Preparando uma tese na Universidade
Complutense sobre os fundamentos metodológicos da economia neoclássica,
ele conta: “Participei em tempo integral do movimento. No começo, era
impressionante. Havia grupos de trabalho que contavam com quinhentos
membros! E era emocionante chegar à Sol e ver 4 mil pessoas na
assembleia, discutindo como na ágora grega”. Por rejeitar o sistema
partidário, o 15-M rejeita se definir como um movimento de esquerda. No
entanto, sua crítica aos banqueiros, aos políticos, ao neoliberalismo e
aos especuladores bem que constitui uma análise de esquerda, estima
Ayala. Mas seu verdadeiro sucesso “é ser deliberativo, popular e maciço.
Agora, em todos os bairros, em todas as cidadezinhas, assembleias estão
sendo formadas”.
No dia 12 de junho de 2011, quando a ocupação da Puerta del Sol teve
fim, a multiplicidade de pequenos cartazes pessoais exibidos na praça
desapareceria dando lugar a uma grande faixa: “Nos vemos nos bairros”.
A diversificação geográfica do movimento provoca o surgimento de uma
pluralidade de ações. Uma plataforma foi criada, por exemplo, para
ajudar os moradores de aluguel ameaçados de expulsão. As famílias entram
em contato com os “indignados”, e estes vêm em grande número no dia
previsto para a expulsão e às vezes conseguem evitá-la ou adiá-la por
diversos meses. Eles também ocupam prédios vazios para alojar famílias
necessitadas.
O 15-M permite assim a mobilização e a visibilidade de questões que,
ontem, eram bem menos percebidas, como a luta pela gestão da água. O
município de Madri pretende privatizar a empresa pública Canal del
Isabel II. Essa campanha contra a privatização, explica a advogada
Liliana Pineda, “é um exemplo de colaboração entre o movimento e alguns
partidos políticos. Graças aos ‘indignados’, houve muito mais gente nas
manifestações do dia 8 de outubro, em muitas assembleias populares. E
partidos políticos – Izquierda Unida e Equo – também participaram”. O
evento é importante, pois o 15-M parecia até então recusar qualquer
contato com os partidos políticos, mesmo os que podem estar próximos de
suas posições.
Essa questão da relação com a política nunca foi tão espinhosa quanto
nas eleições legislativas de 20 de novembro de 2011, que viram a
vitória do Partido Popular (PP) de Mariano Rajoy (conservador). Que
posição adotaria um movimento social que se diz não partidário diante de
um momento eleitoral tão importante? Criar um partido para “acabar com o
bipartidarismo” como alguns propuseram em junho de 2011? A ideia foi
rapidamente enterrada. Abster-se? “Nunca aconselhamos a abstenção”,
insiste Paredes. “Aconselhamos a votar em partidos minoritários, pois
éramos contra o bipartidarismo do PP e do Psoe [Partido Socialista
Operário Espanhol].” O objetivo consistia unicamente em identificar –
graças a cálculos estudados – qual era o partido minoritário que tinha a
maior chance, em cada departamento, de ganhar do candidato de um dos
dois grandes partidos. Isso não impediu a direita de ganhar a maioria,
mas permitiu apontar as falhas do sistema democrático espanhol. É para
transformá-lo que Paredes e seus companheiros pensam hoje em um projeto
de “democracia 4.0”, no qual os cidadãos poderiam votar pela internet
nos projetos de lei submetidos ao Parlamento.
Dimensão global
Mas o verdadeiro sucesso do movimento, para além dessa inventividade
permanente, é o peso que ele adquiriu no debate político. Como nos
Estados Unidos e no Reino Unido, os “indignados” espanhóis afirmam que
suas propostas agora estão na cena pública. E principalmente, ressalta
Paredes, eles “conseguiram internacionalizar o movimento. Ocupar Wall
Street [OWS] e os movimentos israelenses6 derivam de certa forma do
15-M”.
Como, no outono [do Hemisfério Norte] de 2011, um pequeno acampamento
de manifestantes no sul de Manhattan poderia se transformar em uma
“revolta global”7 num país em que as mobilizações populares pareciam
pertencer à história?
O advogado Alexander C. Penley, um dos acampados em Nova York, lembra
a importância dos predecessores que tornaram isso possível, como o
movimento sindical do início de 2011 no estado do Wisconsin, e considera
que a Primavera Árabe serviu de exemplo. “Se tal coisa acontecesse na
França, não teria tido o mesmo impacto, porque vocês sabem, na França,
na Europa, os norte-americanos dizem que são normais todas essas
manifestações. Enquanto no Oriente Médio... Esses países eram conhecidos
por serem tão fechados, bloqueados. Se funciona por lá, qualquer coisa
pode acontecer aqui.”
Talvez seja a razão pela qual o chamado à ocupação de Wall Street, lançado na internet pela revista canadense Adbusters,
conhecida por sua crítica radical à publicidade, tenha tido um impacto
tão forte. No dia 17 de setembro, algumas centenas de pessoas vieram se
manifestar no bairro financeiro de Nova York e finalmente se
encontraram, quase que por acaso, no Zuccotti Park, uma praça espremida
entre alguns arranha-céus, a dois passos de Wall Street e de Ground
Zero.
“Alguém deu a ideia de fazer uma assembleia geral, como na Grécia ou
na Espanha”, lembra David Graeber, antropólogo e anarquista, que dá
aulas em Yale e participou do planejamento da ocupação. Nesse dia, coisa
tão rara nos Estados Unidos, as pessoas começaram a falar de política,
na rua, no espaço público. E surgiram diversas reivindicações, algumas
sérias, outras estapafúrdias. Durante essa primeira assembleia geral do
OWS, discutiu-se a anulação do Decreto Citizens United, da Corte
Suprema, que reforça a capacidade de influência das empresas sobre o
poder político;8 mas também o retorno da Lei Glass-Steagall, cuja
revogação por Bill Clinton permitiu a expansão de uma finança sem
controle. De maneira mais fantasiosa, alguns conclamaram o desmonte da
estátua do touro, tão emblemática da potência de Wall Street.
Nos dias que se seguiram, os manifestantes tornaram-se mais
numerosos, barracas apareceram, uma vida se instalou no Zuccotti Park.
As assembleias gerais continuaram, organizaram-se grupos de trabalho,
foi elaborada a “Declaração de ocupação de Nova York”. A praça agregou
diversos tipos de pessoa. Além dos homens jovens brancos diplomados,
também vieram os sem-teto, minorias e outras “vozes marginalizadas”,
cuja inclusão é um desafio não necessariamente resolvido. Alguns se
afirmam comunistas ou socialistas, ou designam o capitalismo como a
causa do problema. Outros querem, ao contrário, conservar esse sistema e
a economia de mercado, e pedem unicamente sua regulação.
Muitos estão desapontados com Barack Obama: “Votei nele, ele não fez
nada, agora quem faz sou eu”. William P. York, jovem advogado
participante do acampamento do Occupy Nashville, no Tennessee, diz: “Em
2008, eu estava engajado na campanha de Obama em Cleveland, Ohio. Era um
estado importante para a batalha eleitoral. Tornei-me muito ativo
politicamente, trabalhei muito para a campanha. Mas percebi rapidamente,
depois de sua chegada ao poder, que ele era pouco diferente dos outros
candidatos. Os dois partidos são, fundamentalmente, o mesmo. Ambos são
cooptados por empresas que podem dar tanto dinheiro quanto quiserem aos
candidatos. Na verdade, eles são comprados pelas empresas, pelas grandes
companhias multinacionais”. A crítica ao poder das grandes empresas
constitui um denominador comum do movimento OWS.
A ocupação dos espaços públicos foi o meio de fazer essa crítica ser
ouvida. Para alguns, ela constitui a realização concreta da sociedade
que eles desejam ver surgir, mas, como nos dirá Shane Patrick, um dos
organizadores do OWS, “ninguém quer viver em uma sociedade igualitária
no meio de Nova York em janeiro”.
A expulsão violenta dos acampados do Zuccotti Park pela polícia de
Nova York na noite de 15 de novembro teve, para muitos, um efeito
positivo. Antigo freelancer para a Newsweek e o The Los Angeles Times, que se tornou redator-chefe do The Occupied Wall Street Journal,
Michael Levitin afirma: “Não precisávamos mais do Zuccotti Park. Era o
melhor momento para parar. E a maneira como o prefeito nos expulsou foi
perfeita: ele foi violento, as pessoas apanharam, foram presas, livros
foram jogados, tudo ficou inacessível aos jornalistas”. Como para o 15-M
em Madri ou Barcelona, a violência policial permitiu ao OWS ganhar a
simpatia da opinião pública, e a expulsão obrigou os ocupantes a
refletir sobre outras formas de ação, para entrar em uma nova fase do
movimento.
Novas relações de poder
Assim, ligações foram criadas entre o OWS e organizações comunitárias
presentes nos bairros populares de Nova York e de outros lugares. No
dia 6 de dezembro, a plataforma Occupy our Homes (Ocupar nossas Casas)
organizou uma ação em todos os Estados Unidos para recuperar habitações
vazias tomadas pelos bancos. O bairro pobre de East New York constituiu o
objetivo do dia. No começo, no centro do Brooklyn, os participantes
eram majoritariamente brancos e diplomados. Durante a marcha, na
plataforma do metrô, depois nas vias, os manifestantes distribuíam
panfletos e informavam os passageiros sobre a taxa de expulsão dos
alojamentos de East New York, a mais elevada da cidade. Alguns se uniam
ao cortejo e retomavam o slogan do OWS: “Somos os 99%”, em referência ao “1% mais rico”.
Cerca de 2 mil pessoas – entre as quais militantes históricos das
lutas em defesa das minorias, como Charles Barron, antigo membro dos
Black Panthers, hoje conselheiro municipal de Nova York – marcharam no
bairro. Outro conselheiro municipal, Ydanis Rodriguez, disse à multidão
que o OWS se tornava “mais colorido”. Entenda-se: havia então mais
negros e hispânicos, minorias.
Na altura do número 702 da Vermont Street, uma casa vazia foi
finalmente ocupada, como em quarenta outras cidades nos Estados Unidos. A
família de Alfredo Carrasquillo se instalou nela. Dias depois da
manifestação uma dúzia de ocupantes permanecia no local para proteger a
família em caso de tentativa de expulsão.
Max Berger pediu demissão do trabalho em uma organização não
governamental para participar do movimento. “Ocupamos essa casa em nome
de uma família. Sempre quis me engajar em ações que transformassem as
relações de poder e lutassem em nome dos que são mais marginalizados na
sociedade. E essa questão da habitação é perfeita: é a extensão natural
do movimento OWS. As pessoas se sentem diretamente tocadas. Dúzias de
famílias entram em contato conosco para que as ajudemos a encontrar uma
casa ou para que as protejamos de uma expulsão.” E acrescenta: “O OWS
tem a capacidade de criar um movimento de massa muito amplo, que vai
mudar a política deste país”. De fato, o movimento não ficou confinado a
Nova York e a algumas outras grandes cidades.9
Em Nashville, no coração da América cristã e conservadora, em
dezembro de 2011 um acampamento se instalou diante do Congresso do
estado. Eram dezenas de barracas que tinham conquistado o direito de
ficar por alguns meses graças a uma vitória judicial em um tribunal
estadual. O acampamento finalmente foi expulso pelos agentes da ordem em
março de 2012, o que fez de Nashville uma das mais longas ocupações dos
Estados Unidos. Aqui, reapropriar-se de um local público tem um sentido
ainda mais profundo do que em Nova York. O acampamento, contam os
ocupantes, criou ligações que esse urbanismo desumano tinha destruído.
Nashville se encontra no coração do “Cinturão da Bíblia”, região do
sul dos Estados Unidos repleta de construções religiosas com cara de
centros comerciais. Jim Palmer, pastor, declara: “Mais do que prestar
atenção aos 10% mais pobres, as igrejas estão em uma dinâmica que as
leva a construir edifícios maiores, ter mais programas, de maneira a
ganhar de seus concorrentes. Desde meados dos anos 1970 o modelo de
empresa se impôs aos pastores. As igrejas são administradas como
empresas. O pastor é como um CEO, rodeado por um conselho de
administração, e os paroquianos não têm mais voz na casa”. E Palmer, que
lançou o grupo ecumênico Occupy Religion (Ocupar a Religião), lembra
que “Jesus faz parte dos 99%”.
Alguns meses depois de seu lançamento, o OWS aparece como polimorfo e
heterogêneo. Ele agrega em torno de si as iniciativas mais diversas e
lança manifestações e ações sobre todos os assuntos: a habitação, o
poder das multinacionais, as vendas internacionais de armamento por
indústrias que “exportam a morte em nome da defesa”, ou ainda a dívida
dos estudantes e a luta por uma educação gratuita. Outros ainda pensam
em ocupar fazendas. O OWS terá então, em pouco tempo, conseguido trazer
algumas questões essenciais – as desigualdades, a crise da
representatividade do sistema político – para o centro do debate público
norte-americano e será constituído como o “movimento dos movimentos”,10
capaz de atrair a atenção para mobilizações que não teriam tal impacto
sem seu apoio.
Os estudantes chilenos construíram um movimento mais clássico.
Combatem os efeitos de uma política neoliberal – a universidade chilena
transformada por Pinochet fez da educação um bem de consumo cujo preço é
elevado –; seu movimento é mais organizado, com eleições e dirigentes
representativos e legítimos.
Apesar dessas diferenças de natureza, existem conexões com o OWS. “Durante nossa campanha, retomamos o slogando
OWS: ‘Somos os 99%’”, diz Gabriel Boric, que acaba de ser eleito
presidente da Federação dos Estudantes da Universidade do Chile (Fech),
com o movimento Criando a Esquerda. O estudante de Direito, que se apoia
em Antonio Gramsci, Toni Negri ou Slavoj Žižek, tem um discurso
político claro: “Somos de esquerda, mas também dizemos que a esquerda,
no século XX, fracassou. O mundo que ela imaginou não veio. Devemos
aprender com esses erros”. Em dezembro de 2011, depois de um ano de
mobilização, e com as grandes férias de verão chegando, ele insiste: “O
movimento estudantil não acabou. Nós não ganhamos, mas não fomos
vencidos”. Os estudantes aproveitaram o verão chileno para construir
novas estratégias: eles se preparam para propor a nacionalização dos
recursos naturais e uma reforma fiscal de maneira a financiar as
universidades.
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