Do Correio Braziliense
Lázaro Guimarães
Magistrado e professor
Pouco a pouco, o Brasil deixa de ser para o resto do mundo um país
exótico, onde Pelé, Ronaldo e Romário jogaram futebol, Ari Barroso
compôs a sua Aquarela, Villa Lobos as suas Bachianas, e se faz o
carnaval mais animado do planeta. A mídia internacional passou a se
interessar pela economia, a política e a cultura brasileira e os
brasileiros acontecem nas redes mundialmente interconectadas.
No seu Hijos de los Dias, exatamente na anotação do 11 de dezembro,
Eduardo Galeano assim reverencia um já internacionalmente reconhecido
escritor pernambucano: “O poeta que era uma multidão — segundo se
acreditava, Fernando Pessoa, o poeta de Portugal, leva outros cinco a
seis poetas dentro. Em fins do ano 2010, o escritor brasileiro José
Paulo Cavalcanti culminou sua investigação de muitos anos sobre alguém
que sonhou ser tantos. Cavalcanti descobriu que Pessoa não continha
cinco nem seis: ele levava 127 hóspedes em seu corpo magro, cada um com
seu nome, seu estilo, sua história, sua data de nascimento e seu
horóscopo. Seus 127 habitantes haviam assinado poemas, artigos, cartas,
ensaios, livros... Alguns deles haviam publicado críticas venenosas
contra ele, mas Pessoa nunca expulsou nenhum, embora tenha sido difícil,
suponho, alimentar uma família tão numerosa”.
Na verdade, José Paulo escreveu a mais completa e lúdica biografia do
poeta português e se pode dele repetir o que diria Pessoa: é grande por
ser inteiro, aliando a sensibilidade literária à atividade
profissional, como jurista, integrante da Comissão da Verdade e titular
de uma das mais conceituadas bancas de advocacia.
Outros pernambucanos que conquistaram fama mundo afora são Antonio
Maria, com a sua Manhã de Carnaval, comumente cantada e tocada nos
passeios de barco pelo Rio Sena, em Paris, Paulo Freire e sua luta
corajosa e inteligente pela alfabetização, Gilberto Freire e sua
construção sociológica multirracial, Luiz Gonzaga e, principalmente, sua
Asa Branca, Lula e sua recuperação do poder aquisitivo de grande parte
da população brasileira.
Vivemos todos interligados, no que Manuel Castells — The Rise of the
Network Society ,West Sussex, 2010 — denomina sociedade em rede, na era
da informação, assinalando que as transformações sociais, tecnológicas e
culturais vêm juntas para engendrar uma nova forma de sociedade. Dentro
dela o Brasil tem um papel de relevo, não só pela dimensão geográfica e
populacional, mas também pela contribuição intelectual dos seus
artistas, literatos, cientistas, que geram as linhas centrais desse
processo. Daí a advertência do cientista político:
“A urgência de uma nova maneira de entender o tipo de economia,
cultura e sociedade na qual nós vivemos, é aumentada pelas crises e
conflitos que caracterizam a primeira década no século 21. A crise
financeira global, os choques nos mercados de negócios e do trabalho
resultam numa nova divisão internacional do trabalho, o incontido
crescimento da economia proveniente do crime globalizado, a exclusão
social e cultural de largos segmentos da população do planeta das redes
globais que acumulam conhecimento, riqueza e poder, a revolta dos
excluídos na forma de fundamentalismo religioso, a rearrumação nacional,
étnica e as clivagens territoriais , negando umas às outras, e, mais, a
expansão da violência como um meio de protesto e dominação, a crise
ambiental epitomizada pelas mudanças climáticas, a crescente
incapacidade das instituições políticas das nações-estados, estas são as
diversas expressões de um processo multidimensional, estrutural de
mudança que toma lugar num meio de agonia e incerteza”.
Nessa divisão internacional do trabalho, os países que não se
destacarem pela produção cultural, pela boa formação educacional, pela
organização e aperfeiçoamento nas relações sociais e profissionais,
ficarão para trás. Por tudo isso, é muito bom saber que os brasileiros
são lidos, ouvidos e respeitados no exterior.
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