quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O Brasil que o mundo vê 21/11/2012

Do Correio Braziliense

Lázaro Guimarães
Magistrado e professor
Pouco a pouco, o Brasil deixa de ser para o resto do mundo um país exótico, onde Pelé, Ronaldo e Romário jogaram futebol, Ari Barroso compôs a sua Aquarela, Villa Lobos as suas Bachianas, e se faz o carnaval mais animado do planeta. A mídia internacional passou a se interessar pela economia, a política e a cultura brasileira e os brasileiros acontecem nas redes mundialmente interconectadas.
No seu Hijos de los Dias, exatamente na anotação do 11 de dezembro, Eduardo Galeano assim reverencia um já internacionalmente reconhecido escritor pernambucano: “O poeta que era uma multidão — segundo se acreditava, Fernando Pessoa, o poeta de Portugal, leva outros cinco a seis poetas dentro. Em fins do ano 2010, o escritor brasileiro José Paulo Cavalcanti culminou sua investigação de muitos anos sobre alguém que sonhou ser tantos. Cavalcanti descobriu que Pessoa não continha cinco nem seis: ele levava 127 hóspedes em seu corpo magro, cada um com seu nome, seu estilo, sua história, sua data de nascimento e seu horóscopo. Seus 127 habitantes haviam assinado poemas, artigos, cartas, ensaios, livros... Alguns deles haviam publicado críticas venenosas contra ele, mas Pessoa nunca expulsou nenhum, embora tenha sido difícil, suponho, alimentar uma família tão numerosa”.
Na verdade, José Paulo escreveu a mais completa e lúdica biografia do poeta português e se pode dele repetir o que diria Pessoa: é grande por ser inteiro, aliando a sensibilidade literária à atividade profissional, como jurista, integrante da Comissão da Verdade e titular de uma das mais conceituadas bancas de advocacia.
Outros pernambucanos que conquistaram fama mundo afora são Antonio Maria, com a sua Manhã de Carnaval, comumente cantada e tocada nos passeios de barco pelo Rio Sena, em Paris, Paulo Freire e sua luta corajosa e inteligente pela alfabetização, Gilberto Freire e sua construção sociológica multirracial, Luiz Gonzaga e, principalmente, sua Asa Branca, Lula e sua recuperação do poder aquisitivo de grande parte da população brasileira.
Vivemos todos interligados, no que Manuel Castells — The Rise of the Network Society ,West Sussex, 2010 — denomina sociedade em rede, na era da informação, assinalando que as transformações sociais, tecnológicas e culturais vêm juntas para engendrar uma nova forma de sociedade. Dentro dela o Brasil tem um papel de relevo, não só pela dimensão geográfica e populacional, mas também pela contribuição intelectual dos seus artistas, literatos, cientistas, que geram as linhas centrais desse processo. Daí a advertência do cientista político:
“A urgência de uma nova maneira de entender o tipo de economia, cultura e sociedade na qual nós vivemos, é aumentada pelas crises e conflitos que caracterizam a primeira década no século 21. A crise financeira global, os choques nos mercados de negócios e do trabalho resultam numa nova divisão internacional do trabalho, o incontido crescimento da economia proveniente do crime globalizado, a exclusão social e cultural de largos segmentos da população do planeta das redes globais que acumulam conhecimento, riqueza e poder, a revolta dos excluídos na forma de fundamentalismo religioso, a rearrumação nacional, étnica e as clivagens territoriais , negando umas às outras, e, mais, a expansão da violência como um meio de protesto e dominação, a crise ambiental epitomizada pelas mudanças climáticas, a crescente incapacidade das instituições políticas das nações-estados, estas são as diversas expressões de um processo multidimensional, estrutural de mudança que toma lugar num meio de agonia e incerteza”.
Nessa divisão internacional do trabalho, os países que não se destacarem pela produção cultural, pela boa formação educacional, pela organização e aperfeiçoamento nas relações sociais e profissionais, ficarão para trás. Por tudo isso, é muito bom saber que os brasileiros são lidos, ouvidos e respeitados no exterior.

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