domingo, 4 de novembro de 2012

O livro "Blackwater" e a indústria da guerra nos EUA 04/11/2012

Por xacal
Comentário ao post "A doutrina Rumsfeld e a privatização da guerra"
Nassif,
Recomenda-se a leitura de "Blackwater, A ascensão do exército mercenário mais poderoso do mundo", de Jeremy Scahill, pela Companhia das Letras.
Não se trata, como se pode imaginar à guisa de primeiro exame, de uma inovação em estratégia militar que teve como desdobramento a necessidade de terceirização do esforço de guerra.
Ao contrário: foi uma guerra produzida sob medida, onde a promiscuidade ideológica entre militares, neocons e mega-empresários, cimentou formação de contratos e serviços privados milionários para as empresas "especializadas" do setor.
Olhando com a distância que o tempo histórico permite é correto afirmar: A unidade conceitual ideológica e financeira entre neocons e o setor bélico estadunidense deu substância ideológica para a guerra ao terror.
Muito parecido com a sustentação ideológica da "war on drugs", que repercute entre nós com especial sanguinolência e prejuízos orçamentários, sob a forma de compras "militares" intermináveis e nas taxas de mortalidade anuais.
A guerra ao terror já estava na "prancheta dos arquitetos" ultra-republicanos, assim como a guerra as drogas.
No plano interno, ainda que em 1980-1985 tenha sido o período de descréscimo no uso e abuso de drogas ilícitas nos EEUU, começaram as prisões e a severa repressão militarizada pelo território estadunidense, criando o ambiente para os negócios prisionais, a venda de armas pelo mundo que se globalizava pela doutrina da "war on drugs".
No eixo político interno, as prisões funcionaram como uma nova lei "Jim Crow"(ver "The new Jim Crow, Mass Incarceration in the Age of Color Blindness, de Michelle Alexander pela editora New Press) onde pretos, pardos e imigrantes foram segragados em sub-castas de ex-presos em condicional, cujos direitos políticos são cassados, em um novo estamento jurídico de exclusão que substituiu o racismo oficial dos tempos da luta pelos direitos civis, pelo emprisionamento dos novos indesejáveis sob o escopo "criminal anti-drogas", em tempos de "democracia racial" e direitos civis para a classe média negra estadunidense.
Mais ou menos como a "nossa democracia racial", que é bem verdade nunca oficializou o racismo, mas também ao invés de segregá-los pelos processos na justiça e prisões, os mata nas perfierias.
Já no eixo externo, a estrutura normativa para permitir a privatização da guerra começa Reagan e os "contras", passa por Bush pai e não mais se interrompe até 2001. Nem mesmo sob o intervalo da administração democrata.
A doutrina de terceirização abrange desde o aspecto tático de "campo", com a utilização de mercenários em combate, até o uso de países-contratados, que permitiram que seu solo e seus agentes fosse empregados no esforço das entrevistas ultra-ativas e "extrações", eufemismo para tortura e seqüestro internacional.
Junte-se, no campo das finanças e total e irrecorrível subordinação da soberania dos Estados nacionais, seus ativos e  direitos sociais de suas populações as exigências dos deus-mercado, e temos a tríade que configurou nosso ambiente sócio-político-econômico dos útlimos anos, e que tenho certeza que demoraremos muito tempo para entendermos e superarmos:
1-Economia predominante sobre a política e partidos, militarização;
2-judicialização, criminalização e encarceramento dos conflitos sociais baseados em uma escala de valores sobre condutas que não é proporcional a ofensa ou ameaça oferecida pelos comportamentos chamados antissociais;
3- e por útlimo, expansionismo militar erigido sobre demandas empresariais amalgamados por valores de intolerância cultural.
Nossa leitura distorcida destas expressões, nossa "tropicalização" destes conceitos nos dá o caldo que hoje nos assombra:
Imprensa partidarizada, política judicializada e criminalizada, polícia letal, violência urbana, garantias constitucionais violadas pela corte que deveria protegê-las, justiça recortada por classe, cor e idade, direitos transformados em privilégios, etc.
Eu não sou otimista.
Com o deslocamento do eixo central da hegemonia capitalista, a coisa só tende a piorar no cenário externo, com um agravante que o texto propõe: quem decidirá sobre quem vive e quem morre poderá ser um programa de computador, sem culpas.

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