segunda-feira, 1 de abril de 2013

Transformação da economia global “assassina” cidades 01/04/2013

Voz da Rússia


EUA, dólar, dinheiro

EPA

A cidade americana de Detroit, que se encontra à beira da falência, passou a ter uma gestão externa. Os peritos falam de uma tendência para a falência de determinadas cidades e até de regiões.

Detroit recebeu um gestor de insolvências a quem foram atribuídos poderes extremamente amplos. Em caso de a sua missão falhar, a capital da indústria automóvel norte-americana será a maior cidade falida dos EUA. Hoje, o défice orçamental de Detroit é de 327 milhões de dólares e a sua dívida global é superior a 14 bilhões. A cidade passou de capital automobilística a capital criminal do país, o seu nível de criminalidade é superior em mais de cinco vezes ao nível médio dos Estados Unidos.
Aliás, os peritos consideram que o lado financeiro da questão nem é o mais grave. Na opinião de Vassili Koltashov, diretor do Centro de Estudos Econômicos do Instituto da Globalização e dos Movimentos Sociais:
“A extinção das cidades e de regiões inteiras nos EUA e na Europa está associada à deslocalização da indústria nos últimos 15 anos para territórios na China e para países do terceiro mundo. Essa é a chamada periferia industrial do sistema econômico global. Essa tendência se mostra, antes de mais nada, nos países mais desenvolvidos do sistema capitalista mundial. Nos EUA, na Europa, no Japão está ocorrendo uma centralização financeira. Mas ela não é positiva. Porque as autoridades não conseguem encontrar (nem se preocupam em procurar) uma solução para os problemas econômicos. Ou seja, na prática eles mantiveram nos últimos anos a crise em conserva. O seu único sucesso foi a limitação do seu desenvolvimento. Por isso, a falência do sistema financeiro estatal e do sistema de controle pelo Estado aparece como perfeitamente lógica. Nessa situação, a austeridade é a única resposta dos gabinetes neoliberais da Europa e da América do Norte.”
Porém, há uma série de peritos que mantêm a opinião que a razão para o aparecimento das cidades-fantasma no Ocidente pós-industrial não é a transferência das indústrias para os países da Ásia e Pacífico, mas sim o progresso tecnológico. A indústria moderna não necessita simplesmente dessa quantidade de mão-de-obra. Na generalidade, a questão é mais profunda do que parece à primeira vista.
Temos que referir que Detroit é o caso mais mediático, mas não o único, da influência prática das leis fundamentais do mercado sobre a civilização. A Europa passa por problemas semelhantes. Na Espanha, por exemplo, a crise da dívida atingiu quase uma dezena de regiões que recorrem à ajuda financeira de Madrid. Nas palavras de Vassili Koltashov.
“A queda do nível de vida continua não só no sul da Europa, mas também no norte desse continente. Claro que existe uma ameaça social. Por enquanto podemos dizer que a crise fez aumentar a migração das partes mais atingidas da zona do euro para as economias periféricas, para as economias em desenvolvimento e para as economias desenvolvidas da Austrália e da Nova Zelândia. Existe uma emigração para o Brasil. Já agora, para a Rússia também. Mas por enquanto ainda não se pode dizer que esses fluxos são enormes, como o foram no século XIX, quando houve uma migração de milhões de pessoas para os novos territórios. Está ocorrendo uma migração dos especialistas mais qualificados e adaptáveis. Isso é um benefício para as economias atrasadas. Mas os países periféricos também enfrentam as suas dificuldades. Essas dificuldades irão criar limitações a essa migração. Deixará de haver uma segurança relativamente ao futuro no local de destino.”
Em outras palavras, não devemos dramatizar a situação, mas hoje, quando no mundo ocorrem grandes transformações políticas e econômicas, temos de esperar um aumento da quantidade de cidades-fantasma. Cada uma delas terá a sua história. E na base de cada história haverá razões de viabilidade.
As cidades surgiram como uma necessidade, fossem elas encruzilhadas de rotas comerciais, postos de transbordo em vias de navegação ou praças-fortes militares. Também morriam quando deixavam de ser necessárias. Reconstruí-las era muito caro. Demoli-las não faz muito sentido. É por isso que as autoridades não têm grandes pressas, elas têm do seu lado o melhor aliado, o tempo, que irá varrer as cidades-fantasma da face da terra sem precisar da ajuda do homem.

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